quinta-feira, março 31, 2016

Leitura

Estou quase, quase a terminar o 2.º romance de João Ricardo Pedro, intitulado Um Postal de Detroit.
É a confirmação de um autor interessante, muito interessante, que tem toneladas de literatura dentro do peito e na ponta dos dedos.

O teu rosto será o último, o romance de estreia do autor, tinha deixado excelente impressão. Agrada-me a forma escorreita como Ricardo Pedro vai construindo o texto, a forma da escrita.

Não serei a pessoa mais indicada para aconselhar literatura mas, caro e ocasional leitor, se tiveres tempo e curiosidade lê os livros deste gajo. Parecem-me coisas dignas de serem lidas.

segunda-feira, março 28, 2016

Perdido

A cabeça traz dentro uma coisa bem esquisita, aquilo a que chamamos cérebro.

Penso que seja ao cérebro que devemos os designados "estados de espírito", havendo uma ligação estreita entre uma coisa e outra se bem que as consideremos distintas e, muitas vezes, distantes.

Então, temos o cérebro no interior da cabeça e o espírito algures, não sabemos bem onde.

O corpo, ao que parece, transporta ambos ou talvez transporte apenas o cérebro, não podemos afirmar ao certo. O espírito é menos perceptível, mais difícil de localizar. Seja como for, é o corpo que reflecte uma e outra coisa, cérebro e espírito, e é no corpo que assenta a nossa relação com o mundo e, em última instância, a relação que estabelecemos com nós próprios.

Neste momento já me sinto perdido.

Tudo isto  porque, ao longo deste dia, tenho vogado em desorientação absoluta, entre a tristeza vazia e a sensação de que talvez alguma coisa boa esteja para acontecer. Entre a incapacidade de inventar seja o que for e a suspeita de que alguma coisa extraordinária está quase, quase a chegar vinda de trás do sol posto.

Sinto-me verdadeiramente perdido.

Antes de dormir

Por vezes o passado não encaixa bem no tempo que foi o seu. Temos aquela imagem enfiada debaixo do cérebro e, na verdade, a realidade foi outra. Não interessa, não interessa... o passado só tem de encaixar no presente. Desde que ontem faça sentido no dia de hoje o que interessa se isso é ou não verdade, se isso alguma vez fez parte da realidade?

Talvez esta noite tenha um sonho que nunca tive.



segunda-feira, março 21, 2016

Dada-Punk-Romântico

Valha-nos Nossa Senhora! (Março de 2016)

Por vezes gosto de imaginar que, pelo menos dentro da minha cabeça, existe qualquer coisa que resulta do cruzamento do imaginário Punk Rock com a criatividade desvairada do movimento Dadaísta, tudo humedecido por uma singela chuva com gosto Romântico. Esta coisa a tomar forma nas folhas que cubro com papel colado com tintas por cima.

Na minha cabeça estas épocas e estes movimentos artísticos alinham-se de forma mais ou menos recta, mais ou menos sinuosa (na minha cabeça o Tempo não existe do mesmo modo que existe fora dela), o passado e o presente transmutam-se no futuro da imagem que vai surgindo e que, a cada micro-segundo, já é presente e já é passado na imagem que permanece.

A minha existência ganha sentido nestes objectos que vou criando.

sexta-feira, março 18, 2016

Leitura

Ler um texto bem escrito é uma absoluta fonte de prazer. Não me refiro a estas linhas que te vão passando para dentro do espírito, leitor amigo, tomara eu escrever sempre um pouco melhor que mal. Refiro-me ao trabalho de escritores capazes de fazer de um pensamento algo que se veja.

Quando leio um texto bem escrito (não saberia explicar o que caracteriza "um texto bem escrito") sinto algo próximo daquilo que sentia em criança, quando o meu lugar no mundo, naquele preciso momento, me parecia completo pela simples razão de eu estar ali. Eu e o bonequito, o bonequito e a minha mãe por perto, as paredes da casa e o meu avô sentado na sua cadeira preferida, a ler o jornal.

A Literatura é algo que tem esse poder de nos transportar em todas as direcções, sejam no tempo, sejam no espaço.

quinta-feira, março 17, 2016

Os poetas

Lá está Camões, no alto do pedestal, em pose que se imagina ser pose de poeta. Lá está o monumento, Camões rodeado, em plano inferior, por uns quantos outros vultos das lusas letras.

São poiso para pombas, essas ratazanas aladas, que tudo cagam com indiferença ofensiva; coisa de bicho.

Indolentes, acachapadas no interior das penas que lhes cobrem as carnes, as pombas descansam (estão sempre cansadas?), patas fincadas no cocuruto e nos ombros dos poetas, poetas eternamente cagados.

segunda-feira, março 14, 2016

Ilusão demoníaca?

Ao que parece todos os nossos problemas, individuais ou colectivos, têm uma raiz comum, reduzem-se a uma só questão. Dormes mal à noite? Os refugiados são barrados nas fronteiras da Europa? A extrema-direita arrebita cabeça um pouco por todo o lado? O teu vizinho espanca a mulher e bate nos filhos? Pois bem, a raiz de todos estes problemas é económica.

A Economia investe forte e feio sobre o nosso quotidiano delirante, transformando coisas diferentes numa única e mesma merda. Ela justifica todos os desmandos e cauciona todas as malfeitorias. Não há moral, não há valores nem princípios que se sobreponham à questão fundamental: a riqueza material.

É este o caminho que trilhamos enquanto indivíduos e enquanto comunidade global. Temo que, quando chegarmos a algum lado, não encontremos o mundo do vinho e das rosas que nos querem fazer acreditar ser o lugar para onde nos dirigimos.

sábado, março 12, 2016

Ficções

As pessoas passam por mim. Altas, baixas, magras, gordas, umas com um sorriso, outras carrancudas, algumas com olheiras castanhas, outras luminosas e bem dispostas. Deslocam-se em todas as direcções.

Fico a pensar que cada um de nós vive a sua própria ficção e é a soma de todas estas ficções que constitui aquilo que imaginamos ser a realidade. Ou seja, a realidade é, apenas, a super-ficção que nos une a todos. E é também a realidade aquilo que nos divide e separa uns dos outros.

Não é lá muito bonito, mas parece ser o que se arranja.

quarta-feira, março 09, 2016

Pensamento vespertino

Por vezes chamo às coisas nomes que não sei se elas têm, Talvez porque procuro algo que sei ser impossível, talvez porque muitas coisas escondem o que não possuem. Seja como for, é um caminho que se faz pelo mero deleite de ser feito.

domingo, março 06, 2016

Adeus Cavaco

Aproxima-se o dia em que Cavaco Silva regressará ao nevoeiro de onde nunca chegou realmente a sair. Após tantos anos a ver a vulgaridade e a estreiteza de espírito ocupando a governação do país, como um vírus ocupa o corpo enfermo, chega, finalmente, a hora do adeus. Adeus Cavaco.

Eu nunca gostei de Cavaco. Posso mesmo dizer que sempre o detestei. Nos dias que correm vejo nele, apenas, um velhote meio senil, Já não sinto mais do que desprezo pela personagem.

Leio alguns artigos sobre o tema deste adeus português, as opiniões de certas figuras mais ou menos públicas, de jornalistas... parece haver uma cautela generalizada em classificar a longa penumbra cavaquista que obscureceu Portugal durante todos os anos em que Cavaco foi 1.º ministro e, depois, presidente da república. Todos dizem que é prudente deixar a História julgar o legado que este ser vivo deixa à nação portuguesa.

Fico a matutar no assunto. Irá a História colocar Cavaco numa prateleira mais ou menos dourada? Será a sua mediocridade transformada em virtude com o passar do tempo? É bem possível que tal aconteça e que, daqui a muitos anos, quando Cavaco for apenas mais um nome numa longa lista de personagens históricas, seja visto como um estadista cauteloso e frugal, um homem interessado em fazer de Portugal aquilo que o nosso país é.

A História enverniza, limpa e enaltece tanta gente que Cavaco não será, certamente, excepção. Por agora basta. Adeus, ó Cavaco.