segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Sonambulismo

Continuo a sentir uma emoção particular quando a questão é o meu povo. Refiro-me ao povo que conheci na minha infância, ao povo de que ainda faço parte. O povo da minha aldeia. Um povo medroso, petrificadamente religioso, um povo que por não compreender nada aceitava Deus como finalidade absoluta da sua existência.

Na minha meninice tinha pesadelos terríveis nos quais o Diabo me perseguia e eu corria, desenfreado, fugia sempre em frente com quanta força tinha, com a força que só somos capazes de encontrar nas profundezas do sonho, quando o sonho se transforma em pesadelo.

O mundo mudou, o meu povo transformou-se e o Diabo deixou-me em paz no dia em que deixei de acreditar nele. Agora vivemos todos num mundo melhor.

O Diabo deixou-nos em paz mas não morreu. O cabrão está bem vivo. Ele come tudo e não deixa nada.

Andamos adormecidos; a miséria deu lugar a alguma folga, já não andamos descalços no Inverno nem comemos batatas todos os dias acompanhadas por uma cabeça de sardinha meio apodrecida. Agora temos McDonald's e Coca-cola, temos centros comerciais e carros a prestações mas continuamos a ser os mesmos.

É urgente despertar.

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