terça-feira, janeiro 05, 2016

Autoria

Vai por aí uma certa polémica relacionada com a suspeita de que algumas obras atribuídas a Hyeronimus Bosch não serão da sua autoria. É uma questão complicada que merece, pelo menos, um sorriso.

Os argumentos apresentados por quem rebate a mão do mestre nas ditas obras baseiam-se, tanto quanto pude compreender, na observação do estilo do desenho ou na técnica da pincelada. Que são diferentes nestas obras quando comparadas com outras, assinadas. Acredito piamente.

A minha dúvida (e o meu sorriso) desprende-se da constatação de que um artista muda e evolui. Ninguém é constante ao longo do trabalho de uma vida. Outro ponto interessante é que o material acaba e, por vezes, experimenta-se outro. Ainda para mais, na época em que Bosch trabalhou, era nos ateliers que os artistas produziam os materiais com que trabalhavam, não existiam marcas de produtos artísticos à venda em grandes superfícies comerciais.

Enfim, esta treta toda para reflectir um pouco sobre a importância da autoria numa sociedade de consumo descontrolado, como é a nossa.

As obras referidas (3 que estão no Museu do Prado, em Madrid) foram, até hoje, admiradas como fazendo parte do legado extraordinário que Bosch deixou à Humanidade. Além dessa qualidade, por serem atribuídas ao Mestre, valiam milhões, o seu preço era incalculável. Convenhamos que, nos dias que correm, este é um factor determinante para a qualidade do que quer que seja. Se não é de Bosch, o valor em euros cai a pique, logo a qualidade da coisa cai ao lado.

Assim sendo, a partir do momento em que perderem o nome de Bosch, estas obras passam a ser uma merda? Estou-me bem a lixar se o trabalho é deste ou daquele. A qualidade está lá, na superfície pintada, na energia que emana da pintura, na magia do objecto. O nome, a assinatura, não passam de pormenores.

2 comentários:

João Menéres disse...

É quase como no Carnaval : se colocarmos na face uma máscara deixaremos de ser quem somos ?

Um abraço.

Silvares disse...

Bem observado.