quarta-feira, fevereiro 04, 2015

Lavoisier revisitado

Afinal de contas o que é isso: dinheiro? Para que serve e a quem aproveita? Que formas toma ele, como se materializa o dinheiro, que muitos consideram já a verdadeira divindade? Perguntas, perguntas, perguntas, tantas perguntas, demasiadas respostas.

O Orçamento de Estado é um exemplo de como se transforma o dinheiro em coisas mais ou menos palpáveis. O dinheiro vai para a construção e manutenção do chamado Estado Social; transforma-se em estradas, escolas, hospitais, repartições públicas, Algum desse dinheiro transvia-se e transforma-se em comida, em bebida, em mulheres apetitosas ou coisas menos classificáveis. É dinheiro que se materializa com maior ou menor nitidez mas que se materializa de forma compreensível para o comum dos mortais.

Também o dinheiro obedece à extraordinária Lei de Lavoisier, nem mais nem menos: "nada se perde, nada se cria, tudo se transforma..."

Depois há o dinheiro que se pede emprestado e se paga aos Mercados. De onde vem? Para onde vai? Em que se transformam este dinheiro? Quem beneficia da sua materialização (se é que alguma vez se chega a materializar, de facto)? O que era aquele dinheiro que foi emprestado ao nosso Estado antes de ser o ordenado que me entra no bolso e eu vou trocar por casa, comida, cigarros e outras coisas que não me apetece referir. Em que se vai transformar o dinheiro que devolvo sob a forma de imposto e é aplicado no pagamento dos célebres "juros da dívida"?

Por vezes temo que esse dinheiro se transforme em coisas que abomino, armas, para dar um exemplo. É que as armas tendem a transformar a vida em morte, a transformar a paz em guerra, não gostaria de saber que o dinheiro que resulta do meu trabalho fizesse de mim cúmplice no assassinato de inocentes em nome de uma qualquer divindade merdosa.

Não percebo nada de Economia (nunca poderei ser sacerdote desta igreja) e não consigo perceber as voltas que o dinheiro dá, as coisas em que se transforma. Assim sendo, nunca poderei compreender verdadeiramente este mundo, estarei sempre longe de apreender o sentido da minha existência e dos que me rodeiam.

Por vezes, em noites de pesadelo,sonho que somos como animais a pastar. Pastamos o nosso trabalho e a nossa miséria e assim engordamos o valor do dinheiro, através do nosso esforço em manter a vida. Depois, bem gordinho, o dinheiro (informe coisa) flui para longe de nós e vai cair direitinho no prato de umas personagens das quais consigo ver apenas a silhueta; imensa, rotunda, tenebrosa silhueta. Quando me aproximo da mesa onde as coisas que comem o dinheiro (e o cagam e o vomitam) estão sentadas começo a suar abundantemente.

É então que acordo, com a camisa colada ao peito e a testa a escorrer gotículas de aflição. Alguma vez serei capaz de me aproximar o suficiente para perceber o que são aquelas coisas que devoram o dinheiro? Temo bem que não, espero bem que não...

2 comentários:

the dear Zé disse...

e eu é aquela imagem daquelas máquinas manuais de triturar carne para as linguiças, "aquelas coisas que devoram dinheiro" a dar à manivela e de um lado nós e do outro, claro, dinheiro

Silvares disse...

Tipo The Wall mas as criancinhas são todas adultos, mais ou menos à força...