domingo, julho 20, 2014

A grande aventura

A questão anda a ser discutida: Portugal tem uma das mais baixas taxas de natalidade do mundo. Que fazer para contrariar este facto embaraçoso?

A Oposição acusa o Governo, o Governo acusa... as cegonhas? As cegonhas não têm voto na matéria e, sem aparentar ligar muito à conversa mediática, o povinho vai fazendo cada vez menos filhos. A população envelhece a olhos vistos.

Prometem-se incentivos fiscais, melhoria nas condições de acesso das criancinhas às creches e jardins de infância, tentam inventar-se modos de entusiasmar as pessoas a ter mais filhos. Mas, será que tudo isto faz algum sentido? Há 50 anos atrás, quando nasci, a população era miserável, as condições de vida da maioria quase animalescas e os portugueses constituíam famílias numerosas que criavam com dificuldades enormes, é certo, mas não deixavam de ter filhos por isso.

Mais do que as condições de vida o que parece influenciar o desejo de alargar a família será o modo como cada um de nós entende o seu lugar particular neste mundo.

Na sociedade actual o individualismo e o desejo de viver uma vida plena de aventura e acontecimentos extraordinários faz hesitar os mais jovens quando se trata de encomendar uma criança aos próprios sonhos. Mais do que problemas económicos, penso eu, a questão é cultural.

Enquanto o mundo for olhado como uma espécie de objecto de consumo colocado à nossa disposição para dele usufruirmos como se fosse uma viagem de férias a um resort na costa mexicana, os filhos serão sempre encarados como empecilhos.

A questão económica é, decerto, importante mas o principal problema é, a meu ver, andarmos apaixonados por nós próprios o que não deixa grande espaço para a possibilidade de nos apaixonarmos por um bebé que nem sequer conhecemos, caraças!

Talvez a solução passe por uma campanha publicitária que venda a ideia de que a paternidade é a maior aventura a que cada um de nós poderá alguma vez aspirar.

sexta-feira, julho 18, 2014

Ser ou não ser (arte)


Avaliar é tarefa complexa. Pretender classificar com um valor numérico o objecto da nossa avaliação é praticamente magia.

Analisamos um texto, forma e conteúdo, comparamos o que vamos compreendendo com uma tabela onde estão definidos os critérios segundo os quais devemos orientar a nossa leitura... ou então observamos atentamente um desenho e aplicamos à nossa alma esse tratamento que consiste em acreditar que podemos seriar de forma justa e sistemática uma quantidade maior ou menor de objectos, artísticos, nos casos acima referidos. Escrita e desenho, artes.

Se olharmos bem para os desenhos na parede e depois para a pauta onde se alinham os valores que lhes atribuímos estamos a ver coisas muito diferentes que se referem ao mesmo objecto. Temos o desenho e uma sua representação abstracta, a nota atribuída. Temos na parede uma natureza-morta (um faisão e duas esferográficas) e na pauta temos 16 (dezasseis). Isto é alquimia!

Poderemos substituir a exposição de vinte desenhos por uma simples pauta afixada na parede? Vinte desenhos com características específicas, muito diferentes uns dos outros, resumidos e retratados assim, de forma sintética, por uma coluna de números e algarismos.

Ou, no lugar de um caderno de contos, uma pauta colada à parede, a prosa e a poesia reduzidas à condição de uns e dois e três e por aí adiante, sem nunca atingir, sequer, o infinito.

Se uma pauta afixada na parede não é arte conceptual então não sei o que possa ser arte conceptual.

segunda-feira, julho 14, 2014

Uma paixão infinita

Um jogo de futebol tem 90 minutos (120 se for num jogo a eliminar). Depois acaba.

Tenho dificuldade em compreender as pessoas que ficam exasperadas quando perdem, principalmente se a frustração não lhes sai do pêlo, no máximo, meia hora após o apito do árbitro que manda terminar o jogo. É para mim impossível compreender aqueles que perdem o apetite, os que batem na mulher e nos filhos ou os que, simplesmente, perdem a vontade de viver quando a equipa dos seus amores é derrotada.

Ok, dependendo da profundidade da paixão de cada um, a coisa poderá prolongar-se por uns minutos, algumas horas... um dia já me parece exagerado mas sei que há malucos para tudo. Dois dias? Já me cheira mal.

Do mesmo modo mas em sentido contrário, gostaria de compreender o que fica realmente dentro do peito dos vencedores, passada a euforia da vitória.

Resumindo: merecerá o futebol, na sua qualidade de fenómeno desportivo-que-o-já-não-é, a atenção mediática doentia que lhe é dedicada? Merecerá o futebol a paixão desmedida que por ele é nutrida por um número estonteante de pessoas espalhadas por todo o mundo?

Nos próximos posts gostaria de ajuda para reflectir sobre as razões que nos fazem cair, tão perdidamente, de amores por um ex-desporto como aquele.

quarta-feira, julho 09, 2014

Da ganância

Um fato, uma gravata e uma cara de pau que até mete medo. Ou então um sorriso fácil e uma simpatia sem fronteiras; estes são tão perigosos como os outros. São os banqueiros, senhores do dinheiro, guardiões dos nossos sonhos, conhecedores dos nossos desejos, eles regulam o mundo.

Os dias passam, a crise permanece. Compreendemos melhor o significado de insignificância e a rapidez da nossa cavalgada pela vida quando percebemos o tempo de recuperação que uma coisa destas necessita. Dizem-nos que a economia levará 20 anos a recuperar, 30 anos a recuperar, tempo demais, na minha humilde mas particular perspectiva. Quando a crise passar e regressarem os tempos do vinho e das rosas, o mais provável é eu já ter batido as botas.

Antes de mim haverão de patinar os mais velhos destes tais banqueiros que, no entanto, agem como se fossem viver eternamente. A sua ganância é lendária, a sua capacidade de amontoar dinheiro e distribuir miséria parece coisa divina. De todos os bichos, o bicho Homem é o que tem maior capacidade para amealhar aquilo de que não tem necessidade.

Sinceramente não compreendo estes seres vivos, estes banqueiros. Não compreendo para que querem mais dinheiro, mais poder, mais miséria. Isto vai muito para lá da minha capacidade de compreensão. Mas as coisas são assim mesmo. Também não compreendo Deus. A única diferença entre os banqueiros e Deus é que os banqueiros existem de facto, sem margem para dúvidas.

segunda-feira, julho 07, 2014

Crescimento

Quando ouço a palavra "califa" a primeira coisa que me vem à cabeça é a imagem de Iznogoud aos pulos, furioso, gritando que quer ser califa no lugar do califa. Quero dizer: "ERA" esta a primeira coisa que me vinha à cabeça, reminiscências da infância e da Banda Desenhada (ainda tenho um ou dois livros de Iznogoud na prateleira).

De há um ou dois dias para cá, quando ouço a palavra "califa" a primeira coisa que me vem à cabeça é a guerra no Iraque e na Síria, a confusão com o Curdistão, a questão turca e os receios do Irão e da Arábia Saudita relativamente ao poder do ISIS e a forma angustiada como os ocidentais olham para tudo isto sem saber nem ter grande coisa para fazer.

Como é que uma coisa tão simples (a imagem de Iznogoud) pode ser substituída por outra tão complicada (aquela baralhação sobre a situação política e militar no Próximo e Médio Oriente)? A resposta é simples: cresci como o caraças!

Como agora sou crescido e tenho uma perspectiva muito mais ampla do mundo que me rodeia consigo compreender as coisas com outra profundidade, não me deixo impressionar com a primeira tolice que me sopra o espírito. Não, agora sou capaz de pensar pela minha cabeça e não me deixo enganar com facilidade.

"Califa" é muito mais do que um bonequito de Banda Desenhada que me fazia rir e proporcionava momentos de puro prazer quando me levava para fora deste planeta. "Califa" agora é Abu Bakr al-Baghdadi o autoproclamado sucessor de Maomé, aquele que vem impor a sharia a todo o mundo, para glória de Alá.

Para quem não tinha compreendido, crescer é sinónimo de complicar.

sexta-feira, julho 04, 2014

Ser feliz

A felicidade é volúvel, tem mais formas que todas as formas deste mundo. Como definir Felicidade? Em que poderemos basear essa definição? O conceito de Felicidade muda conforme cada um de nós, muda com o espaço, com o tempo, com o local, com a ocasião. Um dia estamos felizes por isto, outro dia estamos felizes por aquilo.

A Felicidade sente-se, persegue-se, é sonhada. Procurar a Felicidade é perder-mo-nos num labirinto de estímulos e emoções. Quantas vezes nos perguntamos: o que é a Felicidade? Podemos viver uma vida inteira sem encontrarmos as resposta.

Por isso precisamos de ajuda. Há quem nos indique o caminho a seguir: os líderes, as religiões, as ideologias, os profetas...

No mundo Ocidental e consumista em que vivemos, associamos Felicidade à posse de coisas que, em princípio a proporcionam ou, na mais fraca das hipóteses, a potenciam. Neste mundo a publicidade e a manipulação da informação são processos de orientação dos cidadãos/consumidores nos caminhos que conduzem à Felicidade.

E nós ouvimos, acreditamos e vamos.