domingo, dezembro 29, 2013

Ver



Três magníficas obras em Veneza

Ontem vi pinturas de Tintoretto na Galleria dell'academia em Veneza. Vi outras obras de grandes artistas mas foram as pinturas de Tintoretto que me preencheram. A pintura deste gajo parece mentira, parece milagre, parece extraterrestre. É deslumbrante.
Esta figura flutua, literalmente, sobre o altar da capela

Hoje estou em Roma e fui à capela Sistina. Se esquecer o facto de me ter sentido como sardinha em lata ou ovelha num rebanho pastoreado por gajos maus (no photo, no video, go the left e sei lá que mais) posso dizer que vi outro milagre.

Diz o ditado católico que "ver é pecar", é mas é o caraças! Ver é uma dádiva divina quando se vêem coisas como as que vi ontem e vi hoje. A viagem já valeu a pena, mas isso já eu suspeitava.

quarta-feira, dezembro 25, 2013

Boas festas

Esta época do ano é feita de viagens. O Pai Natal dá a volta às chaminés e eu dou umas voltas por aqui e por ali. Nas minhas voltas deixo o computador para trás e pouco tempo lhe dispenso.

Talvez por isso não tenho o costume de deixar mensagens de boas festas nem desejos de paz no mundo ou felicidades para o ano que aí vem. Hoje estou em casa mas esta madrugada abalo de novo e o computador para aqui vai ficar um pouco só, bastante abandonado.

Eu sei que há mil e uma maneiras de me manter ligado à Net mas não faço isso. Deve ser mania.

Desta vez deu-me uma coisa e decidi fazer isto:

Bom Natal e Próspero Ano Novo para todos os que lerem isto (e também para os que não lerem).

Até breve.

Soa estranho...

quinta-feira, dezembro 19, 2013

Doutores aos molhos

Toda a gente sabe que Portugal é um país de doutores. A média é próxima de um doutor por habitante. Ser doutor, em Portugal, é um estado de espírito que dispensa diploma, carimbos e secretarias. Dizem por aí que somos um país de poetas... tretas! Somos é um país de doutores.

Como bons doutores que somos cagamos sentenças e diagnósticos com uma facilidade estonteante. É que o doutoramento mais comum entre os portugueses é o doutoramento em Tudologia. Isto permite a todos e a cada um ter as mais lúcidas e definitivas opiniões sobre o que quer que seja.

Política, ciência, desporto, engenharia, direito, urbanismo são uma pequeníssima amostra de matérias que estão na boca de toda a gente e que toda a gente domina com uma mestria extraordinária. Arte e aeronáutica nem por isso mas estamos a trabalhar para aumentar, também aqui, o número de especialistas.

Por haver tanta gente extraordinária o extraordinário transforma-se em ordinário, perde o "extra". Isso explica porque é que Portugal, um país que os deuses fadaram para os grandes feitos em prol da humanidade, teima em não passar da cepa torta: tanto doutor excelentíssimo transforma o país numa ordinarice.

Precisamos de mais gente simples e boa e dispensamos tanto doutor. Os doutores estão convencidos que o seu estatuto lhes confere direitos especiais (porque são doutores) e o resultado é este: Portugal.

segunda-feira, dezembro 16, 2013

Natal global!

Viva Buda, viva Cristo e o bacalhau com todos. 
Viva o Sol, a Lua e o Pai Natal. 
Viva o dólar, a Troika e viva o mundo global.

quarta-feira, dezembro 11, 2013

O bicho que roda

O ser humano é, por natureza, uma coisa que não se compreende. Isto porque, além dele próprio, não parece existir mais nada (nem ninguém) à pele do planeta interessado em debruçar-se sobre semelhante tarefa: compreender o que vai em cima destas duas patas.

Uns dias triste e sorumbático, qualquer um de nós pode subitamente saltar para um estado de espírito a rebentar de euforia. Somos assim; bichos de extremos fáceis.

Tais variações de humor, multiplicadas por milhões de milhões de seres humanos (quantos somos nós ao certo?) fazem da Terra uma coisa desequilibrada que, não tendo para onde cair na imensidão cósmica, roda. E roda, roda, vai rodando, como um animal à espera.

Mas o que espera a Terra enquanto roda sobre si própria e, para melhor disfarçar, enquanto vai rodando em volta do Sol? O que espera um planeta que se comporta como um animal, nervoso e indeciso?

Talvez espere que a Humanidade se consuma a si própria. Com maiores um menores ferimentos o planeta cá ficará depois de irmos desta para melhor (oxalá). Então talvez a Terra possa descansar finalmente e pare de rodar. Após tanto tempo deve estar mais que tonta.

sexta-feira, dezembro 06, 2013

O que raio é a realidade?

Antecipar a própria dor e sofrimento é como ter o pé descalço suspenso sobre as águas frias de um rio que corre. O pé suspenso e um monstro que se aproxima, vindo lá de trás, um monstro que poderá querer devorar-nos ou não, talvez pior do que isso. O monstro, o pé descalço suspenso, as águas frias do rio.

Não sabemos o que quer o monstro e tememos o arrepio gelado do pé submerso na água que nos vai esticar o corpo e fazer vibrar a espinha, como se fosse uma corda de violoncelo a gritar uma nota aguda e desafinada. Ai Jesus!

Além de tudo o que ficou explicado, há também a corrente. Será muito forte? Conseguiremos nadar para lá do medo que sentimos? O monstro, o rio, o nosso corpo... a dor e o sofrimento que adivinhamos mas ainda não aconteceu e pode mesmo não vir a acontecer... 

A felicidade e a alegria andam escondidas. Sabemos que andam por aí mas é o monstro angustiante, filho da dor e primo (em 2º grau) do sofrimento que pressentimos lá atrás e nos impele em direcção às águas do rio.

Algures, no meio de tudo isto, fica aquilo que chamamos realidade: a consciência que temos da tangibilidade do corpo que habitamos.

quarta-feira, dezembro 04, 2013

Santa Economia

Em nome da Competitividade e da santidade do Livre Comércio, a Humanidade pariu outra divindade, a já bem famosa Economia.

Costuma-se comparar a Economia com Jeová ou Alá, é uma espécie de brincadeira de adultos, como se uma coisa não tivesse a ver com as outras. Mas tem. A nova divindade é sustentada por uma estrutura de fiéis que cobre todo o planeta  com os seus interesses, como uma teia tecida por milhares de milhões de aranhas.

A Economia tem catedrais por todo o lado. Os altares erguidos para sua adoração são imponentes ou singelos, adoptam as mais variadas formas e tamanhos, mas estão em todo o lado. Conquistam-nos a alma e o coração.

A Economia faz-nos arder de desejo, consome-nos até não restar nada do que somos. Consome-nos até sermos aquilo que desejamos, até nos transformarmos nos objectos que possuímos.

Tal como o cristianismo ou o islamismo, a Economia tem legiões de fanáticos  fundamentalistas. Terroristas, como todos os terroristas. Provocam atentados devastadores, entram-nos casa dentro, olhos acima, cabeça abaixo; bombardeiam-nos diariamente sem dó nem piedade.

Todos os dias morremos em nome da Santa Economia para ressuscitarmos à noite, sempre que dormimos e, finalmente, sonhamos.


domingo, dezembro 01, 2013

8 anos 100 cabeças

O número de posts tem diminuído, a força das opiniões e a virulência da escrita adocicou-se um pouco, sempre passaram 8 anos desde o nascimento deste blogue!

A blogosfera, à época pujante e florescente como um jardim em plena Primavera transformou-se lentamente em zumbisfera, infectada pelo implacável vírus do facebook. A blogosfera é hoje um  cenário de walking deads.

O 100 Cabeças deixou de ser uma necessidade para se tornar uma espécie de limbo entre este mundo e o outro, aquele ali fora, do outro lado da janela. Vão ficando amigos, rotinas e visitas para tomar uns chás virtuais em casa deles, trocar dois dedinhos de conversa sobre isto e sobre aquilo...

Alguns desses amigos virtuais tomaram forma e corpo, outros esfumaram-se na irrealidade da net. Tal qual naquele mundo do lado de lá. A net ganhou uma importância assustadora na forma como define os contornos desse mundo. Realidade e virtualidade a fundirem-se perante os nossos olhos distraídos.

A cada ano que passa há menos posts mas não menos mundo. Quando comecei este blogue sentia-me um pouco incomodado com a falta de visitantes e de comentários. Hoje já não. O 100 Cabeças é uma realidade. Isso basta-lhe. Isso basta-me.

Beijos e abraços.