sexta-feira, agosto 30, 2013

Bizarria

Todos sabemos quem é Edward Snowden. Perseguido pelo longo (mas torto) braço da justiça norte-americana, Snowden acabou por encontrar na Rússia um buraquito onde se esconder, pelo menos, durante um ano (ver aqui, por exemplo).

Como na Rússia nada se faz sem o consentimento de Putin, fica a sensação de que o desfecho deste episódio resulta da sua vontade de irritar um pouco o amigo americano. Quem vir no gesto deste ditador democrático (eu sei que isto é uma contradição) a concretização de uma qualquer visão altruísta provocada pelo amor à liberdade de expressão só pode estar a precisar de uma operação aos olhos e à mioleira. Com urgência.

A notícia de que o pintor russo Konstantin Altunin fugiu da Rússia a sete pés após ter exposto uma obra em que Putin e o seu alter ego Medved surgem em lingerie (ver aqui em português), lança uma luz clara sobre o buraco onde se esconde Snowden.

Com Putin não se brinca. Só ele pode brincar, os outros, quando muito, têm apenas direito a sorrir sorrisos bem amarelos. A obra de Altunin pode ter desrespeitado várias leis russas que defendem a imagem dos governantes e reprimem a apologia da homossexualidade. Por via das dúvidas o pintor achou que o melhor era mesmo por-se ao fresco.

quinta-feira, agosto 29, 2013

A máquina do mundo

Lendo as notícias que nos informam da iminência de mais uma guerra entre as forças ocidentais e um governante caído em desgraça não posso deixar de lembrar a tristemente célebre Cimeira das Lajes. A guerra rebentou e deu no que se sabe. O “nosso” lado estava tão certo das suas razões, alardeava uma tão grande autoridade moral… não havia dúvidas quanto à necessidade e justiça da invasão que levaria à queda e posterior execução (assassinato?) de Saddam Hussein.

Personagens então emergentes como Durão Barroso e Paulo Portas lá se puseram em bicos de pés e assinaram de cruz todas as pretensões de Bush e Companhia. Durão haveria de tornar-se Presidente da Comissão Europeia e Portas, além de uma condecoração entretanto recebida das mãos do inqualificável Rumsfeld, continua a ser o estadista de opiniões moralmente impolutas e decisões tão irrevogáveis quanto uma dentição de leite.


Em 2003 tínhamos Bush, que queria fazer a guerra, agora temos Obama que não quer fazê-la. Mas, ao que parece, querer e não querer a guerra leva-nos a idêntica conclusão. A guerra do Iraque não nos ensinou nada, talvez não houvesse nada para aprender. Estamos prestes a abrir nova caixa de Pandora. Fica a sensação de que a máquina do mundo serve, principalmente, para produzir guerra, miséria e morte.

segunda-feira, agosto 26, 2013

Redesign

Aqui há dias fui ao cinema com a minha filha. Estávamos em Viseu, a oferta cinematográfica não é mais entusiasmante. Insisti no filme "O Mascarilha". Um pouco contrariada a rapariga lá acedeu. Afinal de contas, férias são férias e não custa nada fazer a vontade ao velho.

A personagem preencheu parte do meu imaginário juvenil através dos livros de quadradinhos. Apesar de não ter grandes expectativas em relação ao filme penso que queria matar saudades da minha infância. Lá fomos.

O filme é desopilante. As cenas de acção têm momentos de grande espectáculo e divertimento. As personagens surpreendem com atitudes inesperadas e há pormenores de uma violência cruel que, no contexto, provocam o riso apesar de tudo. Ao contrário do que eu esperava, a narrativa não era tão linear quanto seria de esperar numa coisa deste género. Talvez por isso o filme tenha sido um fracasso de bilheteira nos Estados Unidos (ver aqui).

É de salientar o "redesign" da personagem de Tonto, o índio, interpretada por Johnny Depp. Os maus são muito maus e os bons... nem por isso. À saída vínhamos com um sorriso estampado no rosto. Afinal valera a pena.

terça-feira, agosto 20, 2013

Filosofia de Tasca (outra vez)

"Há sempre uma réstia de verdade em todas as mentiras" pensou ele enquanto remexia as moedas no fundo do bolso das calças. "Quanto mais não seja, a verdade precisa da mentira para existir, nem que apenas por oposição." Largou as moedas e esfregou a cabeça com as duas mãos, como se remexesse shampô anti-caspa na cabeleira fina e oleosa. "Não parece justo continuar a mentir-lhe mas, se as minhas patranhas a deixam tão feliz, quem sou eu para estragar tudo dizendo a verdade?" Olhou a ponta dos sapatos... "Afinal somos apenas dois animais!"

sexta-feira, agosto 16, 2013

Distopia

Hoje fui ao cinema (há muito tempo que não ia ver um filme na sala de cinema) ver Elysium, o mais recente filme do realizador sul-africano, Neil Blomkamp. Quando me sentei sabia muito pouco acerca do filme. Tinha visto ontem à noite uma entrevista com Matt Damon, que interpreta a personagem central desta distopia (wiki) de Ficção Científica. A coisa pareceu-me bem, fui ver.

A sinopse de entrada e os planos iniciais de uma cidade futurista que parece feita de lixo amontoado fizeram-me pensar imediatamente nos contos de Phillip K. Dick. Mais um ou dois minutos de filme e não me saía da cabeça como tudo aquilo era semelhante a Distrito 9.  Tudo agradável para um espectador como eu.

No intervalo abri o jornal e procurei a crítica ao filme. Lá estava, Elysium é do mesmo realizador que Distrito 9 e Jorge Mourinha, o autor daquelas linhas, referia também o universo de Phillip K. Dick (falar apenas de Blade Runner é limitativo mas compreende-se quando se fala de cinema). Ok, as minhas referências funcionavam na perfeição, fiquei contentinho comigo próprio. Estas pequenas vaidades...

Ao chegar aqui, defronte do teclado onde matraqueio estas palavras, procurei no Dicionário do Aurélio online a palavra "distopia". Para minha surpresa não consta no referido dicionário. Um salto à inevitável Wikipédia forneceu-me dados interessantes quanto à origem da expressão que desconhecia por completo (ver link mais acima que tem uma curiosa lista de exemplos de distopias cinematográficas).

Procurei noutros dicionários de português e encontrei esta descrição em "antiutopia" que pode servir de sinopse a Elysium: "representação ou descrição de uma sociedade futura caracterizada por condições de vida alienantes ou extremas, que tem como objetivo criticar tendências da sociedade atual, ou alertar para os perigos de determinadas utopias

antiutopia In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-08-16].
Disponível na www: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/antiutopia>."

O filme, não tendo nada de extraordinário nem sendo particularmente inovador, é, no entanto, suficientemente cativante e merece uma ida à sala para ser visto.


quarta-feira, agosto 14, 2013

Verão leituras

O Verão traz sempre consigo uns quantos livros que se lêem debaixo do guarda-sol, à beira do mar ou nalguma esplanada mais recatada com boa cerveja fresca, de preferência.

Nos últimos tempos tenho dado primazia a autores portugueses e foi de Afonso Cruz a minha última destas leituras estivais. Li O Pintor Debaixo do Lava-louças(ou loiças) que confirmou as boas impressões que me haviam deixado Jesus Cristo bebia cerveja e A boneca de Kokoschka, também deste autor.

Para quem nunca leu Afonso Cruz deixo a recomendação de que o faça. O rapaz é um artista!

Entretanto li também O relatório de Brodie, um livrinho de contos de Jorge Luís Borges editado pela Quetzal que é um primor. Desde a textura da capa à magnificência da escrita, é um livro que dá prazer ter nas mãos.

Mas, com tanto tempo livre, o Verão permite isto e muito mais. De Pedro Gamboa li Almas a saque, uma história de paixão com final pouco feliz que me revelou um autor que desconhecia (mas que conheço pessoalmente).

Entretanto fui ontem à Biblioteca Municipal de Almada levantar outros dois livros de contos. Depois de os ler talvez diga alguma coisa.

Boas leituras. É Verão.

segunda-feira, agosto 12, 2013

Pensamento à beira-mar

Tantas certezas sobre como as coisas são e não são, podem plantar no teu peito sementes de amarga angústia. Não lhes desejes as flores, muito menos lhes queiras provar os reluzentes frutos.