sexta-feira, julho 06, 2012

Fábula inquietante

O quotidiano é como o barro e quem o molda é a nossa mente, feita escultora acidental, a improvisar gestos e truques de última hora que lhe permitam fazer da massa informe alguma coisa que se apresente.

Talvez a metáfora não seja a melhor, foi o que saiu, até porque, quando andei na Escola de Belas Artes, escultura foi uma das minhas muitas desgraças. Por muito que me esforçasse (e esforçava-me pouco) o barro, nas minhas mãos, ganhava sempre contornos de cagalhão.

Mas não foi com o propósito de divagar sobre os meus trabalhos falhados em escultura que abri este post. Longe disso. Vinha aquela introdução a reboque de um pensamento que não me sai da cabeça por muito que a abane ou vá dando palmadas numa têmpora, enquanto inclino o pescoço sobre o ombro contrário.

É um mau pensamento, por isso quero deitá-lo fora. Mas ele não vai, não sai, teima em guardar-se dentro de mim, a infectar-me o optimismo, a fazer-me azedo e desconfiado. Dou por mim a pensar que a nossa sociedade democrática é a confirmação da abjecta visão exposta por George Orwell em "Animal Farm", o livro que, na edição portuguesa, ficou conhecido como "O Triunfo dos Porcos".

Na fábula de Orwell , após a derrota e expulsão dos opressores humanos da célebre quinta, foi escrita na parede exterior do celeiro a frase "os animais são todos iguais". Assim se celebrava a vitória revolucionária da razão sobre a tirania.

Mas, com o decorrer do processo revolucionário, os porcos começaram a subverter os princípios da luta comum de todos os animais e foram dominando o poder. Subitamente, a frase foi corrigida. Alguém acrescentou "mas uns são mais iguais que os outros". Os porcos haviam ocupado o lugar dos tiranos humanos.

É nisto que consiste o mau pensamento que não consigo erradicar. Penso que os porcos nos governam e que os animais, longe de serem todos iguais, estão cada vez mais diferentes uns dos outros. E que a nossa sociedade se torna cada vez mais e fatalmente uma tremenda porcaria.

Chafurdamos nós na merda?

6 comentários:

Jorge Pinheiro disse...

Há muito tempo e nunca de lá sairemos. Como todos sabem, só as moscas é que mudam.

Anónimo disse...

Rui,

estas muito pessimista! Desde sempre os "homens" foram muito piores que os animais! E nem por isso....

the dear Zé disse...

quer dizer... pois e tal atão... é isso, um chafurdice do caraças mas principalmente e a coisa é chafurdice na merda dos porcos que nos governam, que nos deixam uns restos cada vez mais dejectos e, ... pronto eu calo-me qu'isto está a ficar uma conversa de trampa...

Silvares disse...

Jorge, as moscas, ainda assim, são mais honestas que os porcos. Honestidade de mosca, é bom de ver...

Eduardo, na verdade os homens são animais! Por isso...

Zé, a trampa impera!

Anónimo disse...

oi amigo,

por favor, náo ofenda os porcos.

outra, sabia que hoje em dia já somos e estamos canibais porque estes bichinhos (os porquinhos) já possuem o nosso DNA ?

a gente chafurda na merda da nossa ignoräncia

Silvares disse...

Amigo anónimo, e eu que gosto tanto de carne de porco!