domingo, outubro 24, 2010

Olhos que não vêem, coração que não sente


Surpresa e choque! Perante as revelações de que a tortura de civis no Iraque é uma prática corrente à qual os militares ocidentais fecham os olhos ou nela participam, nós ficamos surpresos e chocados. Pessoalmente isto cheira-me a hipocrisia. Chocado? Não sei se fico. Surpreso?  De forma nenhuma.

Estou a beber uma cervejinha de lata, fresquinha, comi agora mesmo um pimento recheado com queijo fresco, mmmhh, picante e suave, um contraste complementar maravilhoso para as minhas papilas gustativas. Vou lendo as notícias sobre os horrores e desventuras dos meus irmãos humanos lá para as bandas do Iraque. Embora me queira convencer do contrário, cá no fundo estou-me a borrifar para esta história. A distância é demasiado grande e o meu coração já está calejado.

No remanso dos nossos lares, confortáveis nas nossas pantufas, indignamo-nos com a violência em terras longínquas. Sabemos que os nossos soldados por lá andam, metidos em guerras, e estamos à espera de quê? Que eles se comportem como cavalheiros? É absurdo imaginar que um tipo saído dos confins dos Estados Unidos da América, borrado de medo num lugarejo perdido em território iraquiano, com uma metralhadora nas mãos, seja capaz de agir de acordo com normas de conduta que consideramos civilizadas. É como pedir a um homem a morrer de sede que espere calmamente pela sua vez de beber um copo de água.

A guerra só pode ser cruel e violenta. Não há outra hipótese. É como um monstro esfomeado à solta num infantário. Uma vez iniciada só podemos fazer tudo o que for possível para encontrar forma de lhe por um fim. Tenho muita pena. Lamento muito. Mas só isso. Tenho o coração calejado e estou protegido pela distância.

3 comentários:

Anónimo disse...

O que mata é a desumanidade, a indiferença. Não importa a distância, dói na alma, e se estivesse lá (no Iraque ou no Brasil) doía na pele mesmo.
abs
madoka

Luma Rosa disse...

Não preciso ir muito longe para saber do que os humanos são capazes, ainda mais quando esses "seres" são acobertados pelo "poder". No Brasil a impunidade corre solta e tortura existe em presídios, cadeias, favelas e vai lá saber onde mais! Outro dia acharam um "campo de desova" e famílias não reclamam o paradeiro de seus entes, porque temem represálias - chamam isto de "guerra civil", camuflada pelo governo que não quer ver sua imagem arranhada no estrangeiro. Calculo, portanto, como deve de ser uma "guerra declarada".
Não é egoísmo curtir as pantufas e a boa cozinha. Alguns homens preferem viver em paz!
Beijus,

Silvares disse...

Madoka, infelizmente o que mata são as armas que outros como nós utilizam. Isso e a natureza. Mas essa é outra história.

Luma, é quando penso nestas coisas que percebo o valor imenso que têm as minhas pantufas. Gostava de poder partilhar o poder destas pantufas com pessoas que não sabem o que isto é.