terça-feira, junho 01, 2010

Uma questão climática

A Costa da Caparica num dia sossegado...


É o calor. Quando o sol aperta um gajo fica meio derretido, mais por dentro que por fora. As ideias parecem diluir-se juntamente com a massa cerebral. O bom senso mistura-se com a estupidez mais pura, o que gera uma estupidez conspurcada que não pode ser considerada coisa boa nem que assim o queiramos fazer.

Um gajo torna-se impaciente, não quer saber se está bem ou mal feito, se é assim ou não é. Que se lixe! Com o calor a esfregar-lhe a pele daquela maneira, com aquele enervante toque aveludado, quase discreto não fosse o suor, o que um gajo quer é decidir rápido e sair dali. Ir para a sombra, mergulhar no oásis da obscuridade, escapar ao demónio quente que é o calor. É assim que se vive nos países em que o Verão, quando chega, é para nos cobrir a todos, a despeito dos ares condicionados ou das regras de sobrevivência ditadas pela Protecção Civil. Um gajo quer lá saber de alguma coisa que não seja uma aragem fresca e uma cervejola bem gelada?

Bem podem chegar conselhos vindos da sábia Suécia ou exemplos da geladinha Finlândia. Nós aqui somos mais Marrocos, somos muito mais Mauritânia. Só não somos tão pretos por fora.

É claro que um gajo, num país assim, não pode dedicar demasiado tempo à reflexão atenta nem trabalhar muito mais que 10 minutos seguidos se estiver ao ar livre. Num país de Sol a palavra economia tem de significar uma coisa diferente que num país de Frio.

Lá para o Norte os gajos têm sociedades com uma organização espectacular. Há quem diga que os invernos rigorosos aproximam as pessoas, aquecem-se umas às outras, sentem-se bem quando estão apinhadas em pequenos molhos de gente.

Cá para o Sul as coisas piam mais fino, não se parece nada com aquilo. Nem pode! Um gajo quer é que o parceiro o deixe respirar, um gajo precisa é de alívio e sombra e coisas assim. Alguém tem de explicar a esses gajos sisudos que governam a União Europeia com os pescoços apertados em nós de gravata que, mais que uma questão cultural, política ou de mera organização social, o que nos separa é o clima.

Eles vêm gozar o Sol quando estão de férias e nós estamos por cá todo o ano. E é aqui que temos de trabalhar. Bem vistas as coisas, Portugal fica quase no norte de África.

6 comentários:

Anónimo disse...

E o que não dizer dos nossos verões eternos, no norte e nordeste do Brasil?

Silvares disse...

deve ser custoso trabalhar debaixo desse sol, não?
:-)

quarto311 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
the dear Zé disse...

Pois, lembras-te do velho Agostinho da Silva? O gajo sabia-a toda.

Jorge Pinheiro disse...

São mais de Sem Cabeças!

Anónimo disse...

Haha! Excelente texto.
Concordo com tudo.. é sem dúvida uma questão climática :P
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