sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Uma merda!


Muito se tem falado ultimamente de falta de liberdade de imprensa em Portugal. Supostamente, o primeiro ministro terá utilizado repetidamente meios pouco correctos tentando evitar a publicação de notícias pouco abonatórias da sua imagem pública. Os partidos da oposição, com o PSD à cabeça, clamam por justiça, eriçam-se na discussão e passam um atestado de torpeza democrática aos que estão actualmente no poder. Balelas.

O verdadeiro problema não está na atitude deste primeiro ministro, que está muito longe de ser flor que se cheire. O problema está na forma insidiosa como a comunicação social vai sendo, cada vez mais, apenas um outro negócio, comparável ao negócio da venda a retalho ou ao da criação de gado porcino. Os jornalistas são vistos como solícitos empregados de balcão cujo dever é manter um sorriso na face e fazer da felicidade dos clientes uma realidade lucrativa.

A profissão de jornalista está a descer vertiginosamente na consideração do público. Aparentemente, ser jornalista nos tempos que correm, é mais ou menos o mesmo que ter sido operário nos tempos fuliginosos da Revolução Industrial. Ou bem que cumprem as directivas dos capatazes de serviço ou arriscam ser atirados borda fora, pois há mais quem deseje ocupar os seus lugares apresentando o perfil de carneiro mal morto, tipo criado para todo o serviço.

Os meios de comunicação social são propriedade privada e respondem à voz do dono. Os grupos económicos que investem nos jornais, nas revistas, nas estações de rádio ou nas televisões têm o lucro como principal objectivo. É a economia e nós não somos estúpidos. Percebemos muito bem que certas notícias não saem em determinados meios de comunicação por não contribuírem para a imagem limpinha que os seus donos pretendem vender ou porque podem vir a embaraçar algum accionista maioritário com negócios pouco recomendáveis.

Aquilo a que temos assistido não é tanto a falência da liberdade de imprensa mas mais o lento definhar de todo o sistema democrático. A partidocracia reinante é sabuja e cheira muito mal da boca. Os meios de comunicação social, salvo raras e honrosas excepções, estão de cócoras, reféns da capacidade para atrair anunciantes e da necessidade vertiginosa de vender, vender, vender. Na ânsia de serem campeões de vendas chegam mesmo a negociar a própria alma e, depois, não resta nada que se aproveite. Uma merda!

10 comentários:

fab disse...

No Brasil as coisas não são diferentes...

Beto Canales disse...

Assino embaixo do que disse o Romano.

Jorge Pinheiro disse...

Por exemplo, nunca mais se falou daquele rapazito Dias Loureiro, ou dos dos escândalos do BPN e BPP... Estranho!

Lina Faria disse...

É isso mesmo, caro Silvares.
Quando o assunto é insustentável na posição editorial do veículo, ele muda o foco e vai para outra tragédia ligeira.
Sinto concordar que minha categoria, salvo excessões, é uma falta de categoria!
Esse mal é universal. Só prá rimar.

Olaio disse...

E aos poucos tudo vai sendo devorado pelo grande deus do capital... parece que é porque sim.

Silvares disse...

Caríssimos, seja em Portugal, no Brasil ou noutro sítio qualquer, vivemos o tempo da Internacional Capitalista. Estamos a vender a nossa Liberdade por tuta e meia.

the dear Zé disse...

É isso. Uma porra.

Silvares disse...

Duas pôrras, até!

Tiago Alves disse...

e se a comunicação social é o 4º poder, acho que hoje em nos anda a fazer falta um 5º.

Rini Luyks disse...

Depois do esperado Jornal da Sexta-feira de Manuela Moura Guedes na Comissão da Ética hoje (quarta-feira dia 3), estou com alguma curiosidade de ouvir as declarações do actual director da informação TVI, Júlio Magalhães...