segunda-feira, outubro 05, 2009

Um sorriso ao espelho


Por vezes há notícias que me enchem de orgulho por ser português. Pelo menos num primeiro momento. Durante os instantes em que não penso demasiado sobre o assunto, o título de uma notícia pode lavar-me a alma e deixá-la perfumada como um bébé saído do banhinho.

Repare-se no título desta notícia : Portugal é o mais "generoso" em políticas de integração. Caramba, digam lá se não soa bem!?

Lembro-me de ser miúdo e viver numa aldeia lá para a Beira Alta, entre a serra do Caramulo e a da Estrela. Não havia água corrente, as pessoas passavam fome de cão, os carros de bois cirandavam pelas ruas em tarefas de transporte e os bichos largavam bosta pelo empedrado. O padre era uma figura importante e a minha avó tinha um retrato do Salazar na parede do corredor, logo à entrada da casa.

As pessoas não viajavam. Saíam da aldeia. Os rapazes para a guerra em África e muitos outros emigravam. Uns para França, outros para a Alemanha mas, se bem me lembro, a maioria dos que saíam dali rumavam ao Luxemburgo. Eram tempos de grande miséria e maior ignorância, de mulheres fechadas em roupas negras como a noite, fruto de muitos lutos e uma tristeza arrasadora.

Mas a vida mudou, oh sim, como mudou! Hoje já não há soldaditos a marchar para África e muitos emigrantes regressaram. Construíram casas, montaram negócios, refizeram o tecido social e económico daquelas bandas. Portugal passou a ser também destino de emigração. No mundo actual, os emigrantes vêm de todo o lado, de países que, imagino, passam agora as dificuldades que o nosso passou nos anos 60 e 70. As pessoas procuram melhores dias onde quer que eles possam amanhecer. E Portugal é um país com muito sol e, sobretudo, repleto de portugueses que são gente com o coração ao pé da boca.

A leitura da notícia que acima refiro mostra como, no campo das intenções, não há quem nos bata. Quando se trata de declarar o que nos vai na alma somos campeões mundiais! Temos legislação generosa e um sorriso pronto quando se trata de receber estrangeiros. Estou em crer que também não nos custa aceitá-los como portugueses quando a isso eles se dispõem, embora isso seja apenas um pormenor.

Um povo que se espalhou pelo mundo como o fez o povo português, num laborioso trabalho de séculos de emigração, só pode, agora, abrir os braços e as fronteiras aos que procuram no nosso país aquilo que nós procurámos noutros países: paz, pão e uma vida melhor.

Apesar de haver muitos com um discurso xenófobo e racista, quero acreditar que a esmagadora maioria do povo português está de bem com o mundo e com a restante humanidade. Que se lixem as fronteiras. Venham daí que serão benvindos!

6 comentários:

Anónimo disse...

Um post lindinho! Cheio de bons fluidos e intenções humanitárias.E contado assim, até parecer que foi fácil, ou cointinua a ser!!!!

Silvares disse...

Diz bem Eduardo, um post lindinho. Mas o que hei-de fazer, há dias assim em que o mundo parece estar um pouco menos horripilante do que o costume.
:-)

Lina Faria disse...

Posso parecer romântica,mas sou por um mundo sem fronteiras.

Silvares disse...

Lina, isso é romantismo mesmo. E qual é o problema?

Anónimo disse...

adorei seu texto e comentário dos seus leitores, lindinhos.
Sério mesmo? dá até vontade de conferir e passar temporada aí então, ou até mesmo dar uma esticada aí, antes de voltar ao Brasil. E é bem isso que vc fala, todos nós queremos: paz, pão e uma vida melhor.
Tem uma banda de rock brasileira que canta bem essa idéia: ´ a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte...´´
adorei.
madoka

Silvares disse...

Madoka, Portugal não é muito grande (nadinha mesmo) mas cabe muuuuuita gente!