segunda-feira, abril 30, 2007

Uma outra Fonte



Eis um bom exemplo de como uma obra de arte (ou com pretensões a isso) pode funcionar como elemento catalizador da Fonte que existe em cada um de nós, como pode um simples objecto fazer jorrar a Fonte que nós somos.
Dependendo das situações concretas a Fonte expele algo em conformidade. Neste caso a Fonte jorra violência e recalcamento.

Onde está a fonte?

"A Fonte" de Marcel Duchamp é considerada a obra mais importante de toda a arte produzida na chamada "sociedade ocidental" ao longo do século XX. Um miserável urinol, igual a tantos outros!!?? Talvez seja mais correcto dizer "semelhante" e não "igual", uma vez que Duchamp inverteu a posição original do objecto ao mesmo tempo que lhe conferiu um contexto diferente transformando-o em algo que ele não era anteriormente.

Esta mera inversão do objecto permite uma singela reflexão que proponho ao leitor eventual deste post. Imagine o leitor que podia utilizar este urinol na sua função de receptáculo. Ou seja, imagine o leitor (o do sexo masculino terá maior facilidade) que poderia mijar dentro deste urinol. O que iria acontecer?

Decerto que, dada a posição do objecto aliada ao facto de não ter tubagem, o seu mijo iria cair-lhe directo nos pés. Este pormenor não será desprezível para a reflexão que desejo propor-lhe. É que, sendo assim, "A Fonte" não é o urinol, mas sim o próprio espectador. É do espectador que jorra o liquído e é a ele que o liquído regressa, devolvido pela acção de Duchamp de descontextualizar e alterar as características físicas (e não só) do objecto industrial.

"Pois, sim, conversa da treta!" - estará a pensar, neste momento, o leitor menos versado nos enigmas e paradigmas da arte contemporânea. Os mais avisados estarão já a perceber onde pretendo chegar com a minha proposta de reflexão.

O que Duchamp vem mostrar é que a validação do objecto artístico não depende unicamente do artista ou do crítico especializado. Duchamp vem propor ao espectador que assuma a sua quota parte de responsabilidade no acto criativo.

Ver é, só por si, um acto criativo. Logo o espectador, o voyeur, é, também, fonte de inspiração e validação (ou não) para o próprio objecto exposto. O espectador é fonte de conhecimento e fonte de sensibilidade.

Duchamp alterou a relação do "consumidor" de arte com o objecto artístico, integrando-o na corrente de avaliação e validação estética, libertando em definitivo a arte das grilhetas do academismo e expondo ao ridículo todos aqueles que pretendem que "A Fonte" estética é algo inatingível, algo que existe para lá da nossa capacidade de entendimento. Duchamp democratizou a criação artística. Compete-nos a nós participar ou não desse processo democrático. Desde "A Fonte" que passámos a ter opção.

domingo, abril 29, 2007

Humor

Gosto muito dos cartoons de Luís Afonso. A forma como cria e imagina situações sempre "em cima" dos acontecimentos é espectacular. Na edição de hoje do Público, na sua rúbrica semanal Preto, branco... e também cinzento analisa o impacto de Jorge Sampaio no diálogo entre civilizações. Um mimo!

Brutalidade

Recebi este relato dos acontecimentos por e-mail. Foi na tarde de 25 de Abril, em plena baixa lisboeta. Uma amarga ironia durante a celebração do Dia da Liberdade. Ora leiam:

Como é que ninguém viu a polícia de choque hoje na Rua do Carmo?

Incrível como ninguém viu a polícia de choque, hoje, dia 25 de Abril de 2007, na Rua do Carmo, em Lisboa, cerca das 19h, carregar em força e indiscriminadamente sobre grupo de manifestantes "Contra o fascismo e o capitalismo.
Eu estava à porta da Fnac e vi com os meus olhos os manifestantes desfilarem à minha frente. Eram talvez uns cem, a gritar palavras de ordem contra o fascismo, mas sem qualquer violência, para além da que resultava das indumentárias negras e das caras tapadas por lenços pretos, sabe-se lá porquê... Que palermas, estes miúdos!
Passados poucos segundos, ia o grupo uns 30 metros mais abaixo, num ponto da Rua do Carmo de onde não era possível fugir, positivamente encurralados, ouvi gritos e pareceu-me ver alguns clarões. Logo a polícia de choque a correr, saíam da Rua Nova do Almada e do Chiado, e lançaram-se sobre os manifestantes, poucos metros abaixo do sítio onde eu e outros tentávamos ver o que se passava. Ouvimos gritos e o som dos bastões a bater, em pessoas, suponho. Confusão, muita. Ninguém entendia o que estava a acontecer e a polícia continuava a vir de todos os lados e a entupir a rua. A impressão que tive era de que havia mais polícias do que manifestantes. Depois foram três ou quatro carrinhas da polícia a entrar pela Rua do Carmo abaixo. Para além do condutor, iam vazias. Eu já nem percebia bem como cabia tanta coisa na Rua do Carmo. O alarido continuava lá em baixo e algumas pessoas subiam agora a correr na direcção da Rua Nova do Almada e diziam que a polícia de choque ia começar a carregar pela rua acima e que era melhor fugir. A minha filha de dez anos puxava-me para eu me ir embora. Estava, naturalmente, assustada. Há menos de meia hora tinha estado a brincar com outros amigos, no meio dos manifestantes que agora estavam a ser espancados, na relva com que a Câmara Municipal e o CEM tinham atapetado o Largo Camões para que os lisboetas pudessem gozar os dias da festa da liberdade.
Descemos pela Rua Nova do Almada e depois para a Rua do Ouro. Quando chegámos ao Rossio a confusão continuava. Fui-me embora.
Ao chegar a casa descobri que a minha filha de 21 anos tinha sido apanhada em plena confusão a meio da Rua do Carmo, depois de sair da Fnac. Por sorte, quando a polícia começou a bater em toda a gente, uma senhora de uma livraria puxou-a a ela e a mais três pessoas para dentro da livraria, mas uma das raparigas não escapou a tempo e levou uma bastonada na cara e o sangue jorrava-lhe da boca. A minha filha estava desnorteada, não acreditava no que estava viver, perguntava-se pelo país em que estava, enquanto via através da janela a polícia a bater em novos, velhos, rapazes ou raparigas. Chamaram o 112 para acudir à miúda ferida. Veio um polícia e perguntou o que lhe tinha acontecido, se tinha sido algum dos manifestantes que lhe tinha batido, responderam-lhe que não, que quem lhe tinha batido tinha sido um bastão de um polícia. Foi-se embora!

Em casa, ligo a televisão, procuro nos noticiários a notícia dos acontecimentos. Nada. Venho à internet e dou com o mesmo silêncio. Será que só nós é que vimos?

O que vos contei não é ficção, aconteceu mesmo hoje. Ou será que não?
Abraços,
Mafalda


A Foto que ilustra este post saíu na edição do Público de 27 de Abril e a notícia expõe os pontos de vista de pessoas que foram apanhadas na onda de violência bem como de fontes policiais. Como seria de esperar as perspectivas são radicalmente diferentes. No final resta uma certeza: houve violência gratuita e desmesurada para aquela situação concreta. Feridos, detidos e demasiada facilidade na forma como os bastões ainda descem e sobem e voltam a descer e voltam a subir, etc., etc., etc...

Um caso exemplar


Recebi esta historinha exemplar por e-mail que me foi enviado pelo Luís Lima, professor e arquitecto, alguém que sabe do que se fala aqui. No final não sei se deva sorrir ou fazer uma careta.

Aprendam...

**Conto, aliás, uma história que ouvi recentemente. Um cidadão português, que sempre desejou ter uma casa com vista para o Tejo, descobriu finalmente umas águas-furtadas algures numa das colinas de Lisboa que cumpria essa condição. No entanto, uma das assoalhadas não tinha janela. *

*Falou então com um arquitecto amigo para que ele fizesse o projecto e o entregasse à câmara de Lisboa, para obter a respectiva autorização para a obra. O amigo dissuadiu-o logo: que demoraria bastantes meses ou mesmo anos a obter uma resposta e que, no final, ela seria negativa. No entanto,acrescentou, ele resolveria o problema. *

*Assim, numa sexta-feira ao fim da tarde, uma equipa de pedreiros entrou na referida casa, abriu a janela, colocou os vidros e pintou a fachada. O arquitecto tirou então fotos do exterior, onde se via a nova janela e endereçou um pedido à CML, solicitando que fosse permitido ao proprietário fechar a dita cuja janela. *

*Passado alguns meses, a resposta chegou e era avassaladora: invocando um extenso número de artigos dos mais diversos códigos, os serviços da câmara davam um rotundo não à pretensão do proprietário de fechar a dita cuja janela. *

*E assim, o dono da casa não só ganhou uma janela nova, como ficou com toda a argumentação jurídica para rebater alguém que, algum dia, se atreva a vir dizer-lhe que tem de fechar a janela! [....] *

Nicolau Santos, in "Expresso online" [...]
A Lei é dura, mas é a Lei!

sexta-feira, abril 27, 2007

Os porcos triunfam (por agora)

Será mesmo verdade? A nossa democracia é realmente aquilo que parece?
O ministério da educação recusou licenças aos professores eleitos como delegados ao congresso da FENPROF alegando que essa situação ia de encontro à lei. No entanto, na véspera das celebrações da Páscoa, o Parlamento alterou as votações agendadas uma vez que, no ano passado, os deputados tinham ido de férias mais cedo e o país inteiro assistiu envergonhado à falta de quorum no hemiciclo de S. Bento. As regras são iguais para todos?
Os funcionários públicos têm as carreiras congeladas vai para... quanto tempo? Há quanto tempo nenhum deles sobe de escalão? Para moralizar a coisa e voltar a pôr o sistema em andamento, o Governo (porque estou a escrever esta palavra com maiúscula?) decidiu que é necessário impor quotas nos diversos escalões. Agora vem dizer que, nos cargos de chefia, essas quotas e o congelamento de ordenados não são assim tão rígidos. Mas porquê?
Quer-me parecer que a nossa democracia se parece mais, a cada dia que passa, com um monte de merda. Há sinais de degradação evidentes e as chefias perderam definitivamente a pouca vergonha que ainda tinham.
Como na fábula de Orwell, também em Portugal "os animais são todos iguais, só que uns são mais iguais que os outros." Vivemos o tempo em que os porcos triunfam. Mas não hé triunfos absolutos nem porcos que deixem de o ser só porque caminham equilibrados nas patas traseiras. Apesar das suas habilidades extraordinárias e do esforço que fazem por parecer outra coisa, mesmo quando se olham no espelho, os porcos são porcos mesmo, não poderão nunca ser coisa diversa. Havemos de acabar a comê-los numa boa sandes de presunto. Até lá temos de os aturar. Mas isto não será eternamente uma pocilga .

Um Homem


Retrato de Jorge Sampaio pintado por Paula Rego

A notícia de que Jorge Sampaio foi nomeado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, como alto-representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações deixa-me profundamente satisfeito. Trata-se de um reconhecimento da dimensão humana do ex-presidente da república portuguesa, traduzido na esperança de que possa vir a contribuir com a sua experiência de vida e a sua inteligência para uma aproximação entre o Ocidente e o Islão.
Uma das suas novas funções será a promoção de valores que permitam a diminuição das tensões entre sociedades e culturas diversas, contribuindo desse modo para a paz internacional. Pelo seu percurso de vida e, principalmente, pelas qualidades humanas que o caracterizam, Jorge Sampaio decerto honrará plenamente as esperanças nele depositadas.

quinta-feira, abril 26, 2007

Clicar sem medo!

Todos os que ainda hoje bocejaram de tédio no caminho para o trabalho ou aqueles que olharam para o horizonte sem o encontrar cliquem aqui http://thrillingwonder.blogspot.com/2007/04/cool-murals-and-painted-buildings.html
Encontrei este lugar através do Varal de Idéias (está aí ao lado na coluna dos links mas fica aqui o respectivo http://cimitan.blogspot.com/).
Excepcionalmente este post não tem imagem associada por ser absolutamente desnecessário.
Clicar, desfrutar e sonhar com uma educação visual capaz de pôr uma população a tripar e a investir de forma descontroladamente criativa no espaço que habita.
Força aí!

P.S. Este sítio está repleto de imagens espectaculares... um passeio bem agradável!

quarta-feira, abril 25, 2007

(R)evolução(!)

Aqui há uns anitos houve uma tentativa de amputar o "R" à revolução. Se bem me lembro Durão Barroso era ainda 1º ministro e andava Paulo Portas a destilar glamour nos gabinetes ministeriais. Fizeram aquele cartaz com uns cravos Pop, numa macaqueação infeliz da estética de Warhol, e quiseram fazer-nos acreditar que a Revolução terminou há muito e vivemos agora a felicidade imensa de uma sociedade evoluída. Mas os cravos de Abril são vermelhos e a Revolução nunca acaba, apenas muda de paradigma.

Em 1974 a Revolução foi política. Era necessário acabar como salazarismo (aquilo nem fascismo pode ser considerado) porque nos impedia de evoluir enquanto povo. Não podíamos continuar a viver num país governado conforme os sonhos de um saloio beato e amedrontado com a imensidão do mundo, capaz apenas de ter pesadelos. Salazar era um déspota de pacotilha, um frouxo intelectual incapaz de admitir liberdade de pensamento a quem quer fosse, ele próprio incluído. Um beirão do piorio! Acreditem que sei do que falo uma vez que, também eu, sou beirão e cresci na Beira Alta, tal como o ditador.

Recortes biográficos à parte, regressemos à mudança de paradigma revolucionário. Uma vez livres do regime salazarista e com Marcelo Caetano no exílio, ficámos entregues a nós próprios. A Revolução das instituições políticas foi penosa e estivemos à beira da guerra civil mas conseguimos evitá-la o que mostra um bom senso grandioso que alguns de nós associam ao que é normalmente designado por "brandos costumes" do povo português. Abençoados sejam esses costumes tão brandos.

Após a estabilização institucional deu-se a entrada na União Europeia cumprindo-se um dos desígnios revolucionários. A maioria da população viu as suas condições de vida extraordinariamente melhoradas e, apesar de todas as assimetrias e injustiças sociais a que assistimos diariamente, Portugal tornou-se um País, com letra maiúscula. Nesta parte da nossa História houve quem visse a Revolução concluída e quisesse deixar cair o "R".

Mas, na verdade, a Revolução é imparável. Uma vez posta em marcha nunca termina. Apenas se transforma, como na lei de Lavoisier. Agora a Revolução está dentro de cada um de nós. Se queremos viver num mundo melhor temos de fazer por isso. A Revolução não é um milagre, não é transcendente. Explica-se, pratica-se... vive-se. Nós podemos mudar o mundo. É claro que não temos a capacidade, enquanto indivíduos, de alterar tudo de um momento para o outro. Não.

Lembro-me de ver uma palavra de ordem anarquista inscrita em 1974 (ou terá sido em 75?)num muro próximo da minha casa em Viseu que dizia "A Revolução começa na cama!". Na época não compreendi o sentido da coisa. Hoje lembro-me por vezes dessas palavras. A Revolução está nos pequenos gestos, no quotidiano, nas relações que estabelecemos com os outros. A Revolução é a vida! Resta-nos a felicidade de a viver.

terça-feira, abril 24, 2007

Memória da Revolução



Esta noite é de festa. Celebramos em Portugal o Dia da Liberdade.
Ao rever as imagens desta pequena montagem documental não consigo evitar a emoção profunda que sempre me causa a recordação do 25 de Abril. Fico com os olhos a arder de lágrimas.
Penso que aquilo que mais me emociona é a percepção da imensa esperança que reside dentro de nós, a esperança de que exista na verdade uma força sobrenatural, uma espécie de magia que emana do colectivo, capaz de trazer à superficíe dos dias aquilo que nos faz ser humanos, bons e justos, ali retratada na multidão reunida em frente ao Quartel do Carmo. Muito "portuguesmente" o povo quer assistir, satisfazer a curiosidade, nem que para isso tenha de estar pendurado numa árvore em possível linha de fogo.
Sente-se a euforia, a alegria transbordante. Poucas vezes teremos sido tão belos enquanto povo, enquanto nação, como o fomos naqueles breves dias de 1974 quando os velhos repressores salazaristas foram afastados do poder. Sem sangue.
25 de Abril sempre.

Post Scriptum - É bestial a tendência para uma certa lamechice sempre que chega este dia. Por outro lado é bom não esquecer os derrotados nesta história até porque eles andam por aí.

O Homem Duplo



Acabei agora mesmo de ver "A Scanner Darkly" em DVD, "O Homem Duplo" em português, retomando o título da edição da Colecção Argonauta que tenho para ali na estante.
O filme tem aspectos interessantes, principalmente a técnica utilizada. As cenas filmadas são tratadas em computador, desenhadas por cima e coloridas à maneira dos Comics americanos. O resultado é visualmente estimulante, embora não resulte sempre bem (O trailer aí em cima não faz justiça ao brilho nem à definição das imagens no DVD). Há cenas menos felizes, outras mais conseguidas.
A narrativa segue o original de Philip Dick. Ao longo do filme fui assaltado por memórias absolutamente esquecidas. É incrível como as coisas nos ficam gravadas no cérebro. Está lá tudo, armazenado algures, à espera do momento em que nos recordamos. A maior parte da informação fica esquecida para sempre. Dizem que vem tudo de uma vez no momento da nossa morte. Quando soubermos se isso é verdade já não interessará muito para esta vida, pois não?
Voltando ao filme. Foi um fracasso comercial de tal modo estrondoso que nem chegou ao circuito comercial em Portugal.Houve uma ou duas sessões aí no Indie Lisboa e agora saíu em DVD. Após ver o filme percebe-se que a adaptação não resulta grande coisa. O fluxo narrativo tem alguns solavancos incómodos.
Resumindo e concluindo, não sendo nenhuma obra-prima não deixa de ser uma experiência curiosa. Para quem goste de Philip K. Dick e tenha lido "O Homem Duplo" será, decerto, uma interessante visita ao passado vestido com um fato do futuro.
Fico à espera de quem se atreva a pegar em "Os 3 Estigmas de Palmer Eldrich".

segunda-feira, abril 23, 2007

domingo, abril 22, 2007

Fascismo higiénico?

A expressão ganha cada vez mais sentido. A cruzada fundamentalista anti-tabágica reveste-se de contornos, por vezes, caricatos mas vai de tal modo lançada que nada parece ser capaz de a travar. Nem o mais elementar bom senso. Será uma forma de fanatismo? Os fumadores serão criminosos ou, talvez, ovelhas tresmalhadas do rebanho branquinho que imaginamos saudável e desejável?
Não é preciso ser muito radical para considerar a proibição de fumar como (mais) uma intromissão na esfera individual dos cidadãos viciados. Um gajo pode ser viciado em muitas coisas desde que não empeste o ambiente. Pode ser viciado em pornografia, pode ser viciado em açúcar ou até mesmo em estupidez profunda. Não há leis que impeçam estes vícios talvez porque, sendo do foro íntimo mais recôndito, eles podem manter-se pacíficamente escondidos. Já fumar...
Como os argumentos e apelos ao bom senso dos viciados em tabaco não pegam a solução encontrada é a repressão. Legisla-se a torto e a direito, as ameaças ganham forma palpável. Multas e mais multas, ameaças e promessas do inferno em vida.
Eu, que sou fumador, sinto-me insultado. Não preciso que me ponham um bófia a olhar para mim com cara de poucos amigos. Sei bem quando devo e não devo puxar do cigarrito. Não preciso das exibições de força bruta e moral que os anjos anti-fumo vão desenvolvendo com os semblantes iluminados dos profetas.
O fascismo higiénico não passa de mais uma forma de intromissão perfeitamente dispensável praticada por um estado que se mostra incapaz de regular e reprimir os verdadeiros prevaricadores em tantos aspectos bem mais preocupantes que o dos fumadores activos.
Andamos a brincar às leis. E somos obrigados a isso mesmo que não queiramos brincar.

Repulsa

A notícia é inquietante. A Yahoo terá cedido dados sobre um utilizador chinês, Wang Xiaoning de seu nome, engenheiro de profissão, que permitiram às autoridades chinesas prendê-lo em 2002, julgá-lo e condená-lo a 10 anos de prisão (pena que está actualmente a cumprir).
Os dados fornecidos pela empresa terão sido a base da acusação contra Xiaoning pelo "crime" de escrever textos críticos contra a actuação do governo chinês que publicava, sob anonimato, na Web.
Wang Xiaoning fiou-se na Virgem e acabou entalado. A Yahoo traíu-o sem apelo nem agravo e agora a esposa do recluso vem tentar colocar a empresa em tribunal, reclamando uma indemnização.
Tudo isto seria de bradar aos céus se outras grandes empresas não pactuassem com o despotismo selvagem do poder chinês. A Microsoft censura expressões supostamente ofensivas no seu serviço de blogues, o Google filtra a pesquisa no seu motor de busca limitando de forma inaceitável a liberdade dos cibernautas chineses e a Cisco vende às autoridades chinesas o materal necessário para a manutenção da chamada "Grande Cibermuralha" de forma a permitir o controle da comunicação via Internet com países estrangeiros.
É caso para dizer que vivemos em pleno e absoluto "Triunfo dos Porcos" nos mundo virtual. Os Cibernautas são todos iguais só que uns são mais iguais que outros. E pagam com a liberdade essa "igualdade".
Pelos vistos, neste mundo virtual em que nos encontramos, o respeito pela liberdade e o direito à privacidade dos indivíduos é ainda mais virtual, dependendo da "bondade" daqueles que controlam o sistema.
Não sou suficientemente versado nos segredos da informática para compreender os métodos nem as tecnologias que temos à disposição, a única coisa que sou capaz de retirar desta história tristemente exemplar é que, também neste mundo sem rostos nem objectos contundentes, valemos o que valemos em função do que pensamos e do que dizemos. Quase como "lá fora", quase...

sábado, abril 21, 2007

Mudanças


Os elogios unânimes recolhidos por Odete Santos após o abandono do seu lugar de deputada na Assembleia da República têm qualquer coisa de nostálgico. Assistimos aos sinais evidentes da falência de um certo modo de estar e de fazer política. Todos os encómios dirigidos à ex-deputada enfatizam a sua inesgotável capacidade para acreditar nos ideais comunistas e ao desassombro com que sempre os defendeu e, decerto, continuará a defender. Os elogios chovem de todos os quadrantes políticos, uns mais outros menos sinceros, há os que resultam de uma certa sensação de alívio, outros carregam alguma mágoa. Fica a impressão de que restarão poucos políticos no activo que reúnam as qualidades de Odete Santos e, se prestarmos um pouco de atenção ao panorama, confirmamos essa impressão com alguma facilidade.
O processo de substituição de políticos idealistas por outros, digamos, mais pragmáticos, terá tido o seu momento mais emblemático na troca de Jorge Sampaio por Cavaco Silva no lugar de Presidente da República. Saiu o autor da célebre frase “Há vida para lá do défice.” Entrou o autor da enigmática máxima da “Má moeda, boa moeda.” Saiu um homem conhecido pelo seu percurso político de uma vida inteira dedicada à luta por ideais entrou outro que se dedicou à política por acidente, resultado da necessidade de rodar um automóvel novo entre Boliqueime e a Figueira da Foz.
O pragmatismo das actuais “elites” políticas é algo inquietante. Os ideais sociais e políticos são agora totalmente subordinados a questões económicas. A Economia surge sempre em primeiro lugar. De tal forma que o discurso político actual se dirige obedientemente para as questões orçamentais como se mais nada interessasse. A Justiça, a Educação, a Saúde só são colocadas em plano de destaque se as medidas propostas nestas áreas contribuírem para a boa imagem das contas públicas. Ouvimos constantemente falar em investimentos de milhões de euros nisto e naquilo sem repararmos que, na maior parte das vezes, ninguém nos explica como vão ser aplicados esses investimentos. Os números são mais importantes do que as acções. Vivemos um mundo de ilusões toscamente fabricadas. Satisfazemo-nos com sonhos pouco ambiciosos desde que sejam bem nutridos em termos económicos. Odete e Sampaio não são cartas deste baralho. Aqui, personagens como Sócrates e Cavaco são ás e rei de trunfo. Não nos interessa que os nossos dirigentes sejam incultos ou meras personagens de ficção, o mundo que eles dirigem também não prima pela excelência do argumento. É toda uma nova forma de vida baseada na capacidade de consumo dos indivíduos em que as questões humanitárias surgem amiúde como furúnculos que é necessário extrair numa boa operação plástica.
O debate entre Portas e Ribeiro e Castro é uma boa caricatura daquilo a que me refiro. A total ausência de substância não coíbe as personagens de reclamarem para si próprias um papel de relevo no desenrolar da acção. Ainda que as suas actuações não prometam mais que uma fraca audiência, ninguém os convence das suas fracas capacidades políticas. Um está convencido, com alguma razão, que uma imagem televisiva iluminada por um sorriso artificial vale mais que mil palavras verdadeiras, ao outro não se percebe muito bem o que o anima mas alguma coisa será.
O adeus a Odete e os elogios por ela recebidos são como um requiem pelo idealismo político entoado com alguma gravidade e melodia triste. Os que ficam vão sorrindo pois sabem que assim estão um pouco mais descansados para praticarem o pragmatismo político à vontade e assim tratarem dos seus negócios. Há quem lhe chame democracia capitalista. Eu acho que isso é um contra-senso.
Carta enviada ao Director do Público

sexta-feira, abril 20, 2007

Robô poeta (e pintor!)

ISU The Poet Robot, Leonel Moura, 2006

Leonel Moura prossegue na senda da arte produzida por robôs. Detsa vez ISU, o robô poeta, foi encarregue de criar obras dedicadas à celebração do 33º aniversário da Revolução de Abril.

Junto informação adicional recebida por e-mail:

Robô poeta de Leonel Moura celebra o 25 de Abril

Convite para a inauguração que se realiza Terça-feira, 24 de Abril pelas 22.00 horas no Museu Arqueológico do Carmo, no Largo do Carmo em Lisboa
Exposição de uma série de desenhos realizados pelo robô ISU dedicados ao 25 de AbrilLeonel Moura ensinou o robô poeta ISU as palavras 25, Abril, Viva e Sempre e com elas o robô gerou a série de composições originais que agora se apresenta
ISU pinta e escreve produzindo assim uma poética própria, numa mistura de aleatório e decisão, que desencadeiano espectador possíveis sentidos e interpretações.
Com este novo robô Leonel Moura avança um pouco mais numa linha de trabalhos onde se procura uma crescente autonomia para as máquinas inteligentes e em que se questionam alguns dos fundamentos da condição e da cultura humanas, como a inteligência, a arte e a poesia.
Mais informação em: http://www.leonelmoura.com/index.html
Na inauguração a entrada é livre
Museu Arqueológico do Carmo (ruínas do Carmo)Largo do Carmo, LisboaT: 213478629

quinta-feira, abril 19, 2007

Uma história


"Hoje lembro-me de uma velha história em que um personagem - de Jerusalém, está claro, de que outro sítio poderia ser? - está sentado num café em frente de um velho com quem entabula conversa. Ora, o velho é Deus em pessoa. Bem, o personagem não acredita logo, mas após alguns sinais inconfundíveis, convence-se de que quem se senta do outro lado da mesa é Deus. E tem uma pergunta a fazer-Lhe, uma pergunta crucial, sem dúvida. «Querido Deus, por favor, diz-me de uma vez por todas: Qual é a fé verdadeira? A católica romana, a protestante, talvez a judaica, acaso a muçulmana? Qual é a fé verdadeira?» E, nesta história, Deus responde: «Para te dizer a verdade, meu filho, não sou religioso, nunca o fui, nem sequer estou interessado em religião.»"

Esta história relatada por Amos Oz no tal livrinho "Contra o fanatismo" (ver dois posts mais abaixo) põe um sorriso nos lábios. Para Oz o humor é um dos principais meios de combate contra o fanatismo. Há outros instrumentos com a possibilidade de nos ajudarem a combater o fanatismo de forma eficaz (ou pelo menos capazes de nos ajudar a debelá-lo no nosso íntimo) mas a capacidade de rirmos, até de nós próprios, revela-se um bom remédio.

quarta-feira, abril 18, 2007

O filho da ilha


Não parece ser fato de Carnaval. Se dúvidas houvesse, a bandeira branca na parede mostra que a cena é real.

A Net tem destas coisas. Um passeio despreocupado e, catrapum, ao virar de uma esquina aparentemente inofensiva damos de caretas com informações inesperadas. Ora vejam lá esta.

Alberto João Cardoso Gonçalves Jardim, Presidente do Governo Regional da Madeira, nasceu no Funchal em 1943.
É licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, tendo sido professor nos ensinos técnico e secundário.
É Professor Convidado da Universidade Independente.

Professor convidado da Universidade Independente!? Ainda há quem ponha em causa a excelência desta instituição. Caramba, só mesmo por má vontade ou inveja venenosa! Esta informação consta da página da UnI (http://www.uni.pt/homepages/docentes/jjardim/index.htm) e surge igualmente na fatal Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_João_Jardim) com alguns retoques de fino recorte.

Faço notar que não aparece registada a nota final de graduação do jovem Alberto João na Universidade de Coimbra ao que consta aluno de má memória e fracas capacidades intelectuais. Mas, justiça lhe seja feita, se não é necessário ser-se Engenheiro para desempenhar com competência as funções de 1º Ministro da República Portuguesa, muito menos será exigível um pingo de inteligência ou sensibilidade ou ainda da mais rasteira boa educação, para presidir com sucesso ao Governo Regional da Madeira. Alberto João é disso prova viva e de boa saúde.

Mais uma vez tropeço neste figurão por força das notícias que dão conta dos privilégios especiais e exclusivos de que gozam os governantes daquela autêntica Região das Bananas e que lhes permitem acumular salários devidos pelo desempenho das suas funções governativas com reformas chorudas. Isto quando todos os outros titulares de cargos governativos no Continente e nos Açores estão abrangidos por um regime de incompatibilidades proposto pelo governo de José Sócrates, esse grande moralizador das massas populares, e aprovado pela maioria socialista na Assembleia da República no recente mês de Outubro de 2005.

Alberto João, como é costume, recusa-se a aplicar a lei da República, argumentando que a lei do seu bananal particular é outra. Aliás, deixou bem vincada (mais uma vez) a sua falta de assiduidade aos chás das 5 em casa das titis ao afirmar que os jornalistas que tornaram público o valor da sua reforma (4124€ mensais da função pública) não eram mais que "uns bastardos na comunicação social do continente-eu digo bastardos para não dizer filhos da puta".

Ora aí está! Alberto João poderia ter chamado "filhos-da-puta" aos tais jornalistas mas não o fez (apesar de o ter dito), ficando-se pelo bem mais brando e, até, reconfortante epíteto de "bastardos". Vindo de quem vem é quase carinhoso. Já agora e por mera curiosidade (juro que é apenas curiosidade) gostaria de saber se João Jardim ainda é professor convidado da UnI e se ganha algum dinheirito com essa actividade ocasional. E, ai a curiosidade, se passa recibos verdes ou se, lá na ilha, também não se usa disso?

Há jogadores do Marítimo e do Nacional da Madeira que não ganham nem metade do que ganha o Albertinho. Segundo os cânones da República Portuguesa isso prova que alguém está a ganhar o que não devia.

terça-feira, abril 17, 2007

Contra o fanatismo

Este livrinho (pela imagem dá para ver a dimensão da coisa) hoje distribuído com o Público merece leitura. O 1º texto, "Da natureza do fanatismo" constitui uma reflexão extremamente lúcida sobre os mecanismos que põem em movimento as fábricas que produzem em massa os fanáticos de todas as naturezas. O leitor (aconteceu comigo) fica a perceber melhor os seus próprios fanatismos, pequenos ou grandes.
Na verdade ninguém parece estar imune à infecção que provoca essa pandemia ancestral, responsável por tanta violência desnecessária (bem basta aquela que é inevitável!) pelo que não é de desprezar a possibilidade de uma consulta com este especialista em fanatismo.
"Contra o fanatismo" está para o fanatismo como "Meu filho, meu tesouro", está para todos os que acabam de trazer um filho a este mundo. Simples, directo, escrito por um especialista e com uma lógica desarmante, sem paternalismos nem sentimentalismos de trazer por casa, os textos de Amos Oz ajudam-nos a arrumar ideias e descobrir, finalmente, o que está por detrás da porta. Aquela coisa que sabemos estar lá, escondida, mas que receamos ver e, por isso, nos leva a manter a porta fechada.


segunda-feira, abril 16, 2007

Lobo acossado!


Por vezes olho à minha volta e tenho a impressão que há qualquer coisa a encolher que me aperta os ossos de encontro aos músculos (chamesmos-lhes assim). Não sei bem, é uma cena meio a dar para o estranheco, uma coisa má, que está mal e podia não estar... não sei explicar lá muito bem... não passa de uma sensação, não sei se estás a ver. Uma cena daquelas que podíamos mudar se nos déssemos ao trabalho de mexer uma simples palha mas nós, nem isso!
E depois, por outro lado, há aquelas outras cenas da categoria mais fatal que é a do destino ou lá o que é essa merda que nos acontece porque tem de ser mas também podia não ter acontecido. Li ontem a crónica de Lobo Antunes na Visão desta semana. Onde ele diz que tem um cancro e está completamente à rasca e que saber que a morte pode vir ao virar da esquina nos deixa ainda mais fodidos que não saber nada de nada. Que é como uma explosão no peito e que deus começa a ganhar uma forma indistinta moldada na vaga esperança de que não seja tanto assim. Na esperança de que haja cura para o mal absoluto.
E sabemos que não há.
E as pessoas mais admiráveis passam a sê-lo por outras razões que até aí nem existiam. As pessoas mais admiráveis têm tanto pavor da morte como as outras todas porque a morte há-de chegar e não há coragem que aguente.
Nem mesmo aqueles que têm condão de ouvir o sussurrar dos anjos...

domingo, abril 15, 2007

Ghost in the Shell



Dois temas musicais dos filmes de Animé "Ghost in the Shell". O primeiro tema (Tokyo) surpreendeu-me completamente quando vi o filme. Vi-o e revi-o (ao temazinho musical) vezes sem conta. A estranheza da língua japonesa (não faço ideia do que estão a cantar aquelas vozinhas) e a excelente animação de toda a cena fazem dela um momento cinematográfico nas proximidades da magia.
Não vi "ghost in the Shell-2" mas o tema musical (Festival) tem também pormenores excelentes.
O Animé (animação japonesa) tem-me vindo a captar a atenção muito por "culpa" de "A Viagem de Chihiro" (http://junior.te.pt/chihiro/viagem_chihiro.html), "A Princesa Mononoke" (http://mononoke.surf.to/) ou "O Castelo Andante" (http://disney.go.com/disneypictures/castle/), todos da autoria de Hayao Miyazaki. Um tempo narrativo diferente, um imaginário surpreendente e o aspecto quase artesanal da animação fazem destes filmes coisas muito especiais.
Ghost in the Shell vem num registo muito diferente. Algures entre "Blade Runner" e "Matrix" no tom e no argumento e com uma técnica de animação cativante.
Um universo a descobrir e a explorar.

Charlatanice total!!!


Hoje de manhã tinha este papelinho no pára-brisas do meu carro. Domingo é Dia do Senhor, eu sei, mas há limites mesmo para as mensagens que nos chegam em Seu nome. Estes evangelizadores da treta começam a misturar política e causas sociais na sua abstrusa mensagem religiosa transformando tudo num escaldante caldo de mais pura vigarice.
Já se sabe que os subúrbios das grandes cidades ou as cidades-satélite, como é o caso de Almada, são autênticos viveiros desta sub-espécie humana que se vai reproduzindo na sombra dos templos e da miséria. O deserto de ideias e de perspectivas de uma vida social feita para lá da mais tacanha estupidez é chão fértil para o desenvolvimento destes madraços preguiçosos, dispostos a tudo para poderem enriquecer à custa do trabalho alheio.
Uma visita a http://www.igrejamana.com/index.php abre-nos os olhos para a forma descarada como estes santos de pau carunchoso se aproveitam da crendice daqueles que lhes são próximos. Não falando das "cruzadas de milagres" sugiro uma vista de olhos ao "testemunho" com o título "finanças" que está hoje a enfeitar a página desta associação de ladrões de almas. Uma leitura dessse texto é revelador dos princípios soberanos que animam a "igreja" Maná.
Sublinho a passagem final:
"Deus é fiel e sempre nos honra quando nós o pomos em 1º.lugar.Recebi uma indemnização a que tive direito, tirei de imediato a carta de condução e fiquei bem à primeira nos exames, já comprei um carro, fiz um voto a Deus que este carro iria ser para evangelizar,e agora estou disposto para liderar um grupo familiar.
Dou o dízimo do subsídio que recebo, e nunca tive tanta abastança.
Deus tem usado pessoas do mundo para me abençoar. Quando o inimigo vem para me atacar uso Efésios 6/10 a 18.Agora vou fazer Hebreus 12 e esta batalha já está ganha. Sei que Deus tem um emprego melhor para mim e com salário acima da média. "
O célebre dízimo retirado do subsídio gera abastança. Resta saber de quem. Encarar Deus como uma espécie de patrão que beneficia os que lhe lambem as botas com empregos pagos acima da média revela bem a perspectiva pastoral desta coisa ruim que anda a minar (ainda mais) a existência de uma população assolada por todo o tipo de problemas. Desde o desemprego à falta de qualidade dos espaços urbanos, só faltavam mesmo estes vampiros para sugarem ao povão
o pouco sangue que ainda lhe corre nas veias.

Entre Inimigos

Não tinha ido ao cinema ver este filme que acabou carregadinho de Óscares. Acabei por vê-lo no portátil, noite dentro. Próximo da perfeição em termos narrativos e com uma montagem de fazer inveja aos menos invejosos, The Departed conta com um elenco de super luxo, a exibir-se a um nível altíssimo e com um brilho ofuscante (deve ser por desempenhos destes que se chamam "estrelas" aos actores!).
Muito sangue e tiros na cabeça à boa maneira de Scorcese e Jack Nicholson a representar outra vez... enfim uma noite bem passada.

Nota: Resolvi escrever este post para equilibrar o anterior. Em termos de cinema (seja em casa ou na sala adequada) tenho um critério largo que me permite ver (quase) tudo. Ás vezes surpreendo-me, outras nem por isso. Vou ali ver um filmito e já volto!
:-)

Diabita

Ontem vi este filme em DVD. O que mais me intrigou foi o facto de um filme baseado num conto (ou será romance?) de uma senhora, sobre um universo (quase 100% feminino), com um elenco onde a stars são elas, com argumento e diálogos escritos por outra mulher é realizado por... um homem! Um pequeno mistério que talvez explique a falta de fulgor de toda a coisa.
Na verdade trata-se de um objecto industrial, daqueles que têm a alma empacotada e com garantia de, pelo menos, 2 anos.
Meryl Streep lá vai tentando conferir alguma espessura à sua personagem mas não consegue sair-se muito bem, talvez porque dali não há saída possível. Se é ela o tal diabo vestido de Prada convenhamos que não passa de um diabito pouco assustador.
Em suma, um filmezinho medíocre em jeito de comédia romântica mas sem par amoroso que se veja. Com um elenco pobrezinho mas muito figurino giraço ou não fosse a trama passar-se no mundo da moda.
A ver caso não haja nada melhor para fazer, o que deve ser difícil.

sábado, abril 14, 2007

Bombas

Pelo menos 34 mortos num atentado em Kerbala
Pelo menos 34 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas depois de um atentado suicida com um carro armadilhado em Kerbala, informou Akhil Khazali, governador da cidade santa xiita, situada a sul de Bagdad.


Dois bombistas fizeram-se explodir junto a representações americanas em Casablanca
Dois bombistas suicidas fizeram-se explodir junto a representações diplomáticas norte-americanas em Casablanca, principal centro de negócios de Marrocos. Horas depois, a polícia anunciou a detenção na cidade dos líderes dos grupos responsável por uma série de atentados na cidade.
O terrorismo do Magrebe preocupa a Europa

As "bombas humanas" ultrapassam largamente a minha capacidade de compreensão. Não é apenas o acto de rebentar consigo próprio que me afasta destes bombistas, é também o facto de se fazerem normalmente explodir em locais onde se encontram multidões com o objectivo declarado de matar o maior número possível de seres humanos.
Se as motivações destes seres aparentemente vivos são de índole religiosa que estranha crença os levará a acreditar que o assassínio mais animalesco que imaginar se pode será recompensado no Além? Que divindade macabra iluminará os altares destes animais sem alma?
Muito se tem debatido e analisado a motivação das "bombas humanas" mas nada me faz compreendê-las, nem um bocadinho!
Cada dia que passa mais pessoas morrem em atentados deste género, o que significa que há cada vez mais bombistas dispostos ao suicídio. O mais assustador é que não há nada a fazer que possa inverter esta tendência apocalíptica. Ou há?


World Press Cartoon/Cristina Sampaio

Ilustrações! Um mundo espectacular de sentidos e segundas leituras (e terceiras e quartas...). Foram atribuídos os prémios da 3ª edição do World Press Cartoon Sintra 2007. (ver premiados em http://www.publico.clix.pt/docs/imagens/wpcartoons/index.html)

Destaco o trabalho de Cristina Sampaio, uma ilustradora com provas mais que dadas e bem conhecida dos leitores do Público. Passeio recomendado pelas páginas do seu site (ver trabalhos da ilustradora em http://www.cristinasampaio.com/pt/index.html).

quinta-feira, abril 12, 2007

Odete superstar

Capa do álbum dos Stranglers "No More Heroes"


Diz a canção dos Stranglers que "todos te amam depois de estares morto" (everybody loves you when you're dead).
Odete Santos não morreu mas, como deixou o Parlamento, passou a ser, para muito boa gente, uma espécie de zombie político, uma morta-viva, uma animadora do hemiciclo passada à reforma. Ao longo do dia de ontem e também ao longo do dia de hoje muitas têm sido as provas de admiração e afecto com direito a entrevistas, atenção e sorrisos como nunca antes tinha acontecido.
Por exemplo, o DN Online expõe um diálogo curto e num discurso muito directo algumas ideias da ex-deputada comunista.
A coisa soa quase como anedota ou mera curiosidade trivial e frívola, como se a entrevistada fosse uma vedeta, tipo Britney Spears depois de sair de uma clínica de recuperação. Mas não, trata-se de Odete Santos e ela saiu da Assembleia da República!
Algumas passagens:


Continua a acreditar na revolução?
Sim.
Mas é uma questão de fé?
Não: eu até sou contra as fés. É uma questão de convicção, que resulta do processo histórico e do marxismo.
O 25 de Abril foi uma revolução?
Foi.
(...)
O capitalismo é um sistema injusto. Mas haverá outro melhor, nomeadamente para criar riqueza?
Há. O melhor sistema é o que cria riqueza para todos. O capitalismo cria riqueza só para alguns.
Mas esse sistema é utópico...
As utopias de hoje são as realidades de amanhã. O comunismo é muito melhor porque cria riqueza por todos e para todos.
Mas o comunismo não existe em lado nenhum.
O comunismo é um sistema muito avançado, que até hoje nunca existiu e demorará muitos anos a realizar. Existiram, isso sim, algumas formas de sociedade socialista.
(...)
Quem foi o melhor primeiro-ministro desde o 25 de Abril?
Dos governos provisórios foi Vasco Gonçalves. Dos governos constitucionais, apostaria na Maria de Lurdes Pintasilgo, que teve algumas medidas positivas na área social.
O Bloco de Esquerda veio refrescar a política portuguesa?
Acho que não refrescou, antes pelo contrário. Em muitas questões tem a mesma posição do PS.
(...)
José Sócrates não é de esquerda?
A política que ele faz não é de esquerda: é de direita.

Ora, quer dizer que... Odete Santos ainda está longe de estar morta. Talvez fosse mais avisado não fazerem dela aquilo que a senhora não é. Não se pense que é louca ou, mais simplóriamente, uma parvinha. Ela apenas continua a sonhar (com ladrões, como se diz na minha terra). Isso ainda se pode fazer livremente e sem pagar imposto apesar de ser uma grande riqueza. Ao que parece razoavelmente distribuída.






quarta-feira, abril 11, 2007

I'm a Thinking Blogger baby!



Não sei bem o que isto é mas não quero quebrar a corrente! Eduardo Lunardelli (http://cimitan.blogspot.com/ Varal de Idéias) achou que o 100 Cabeças seria um Blog com qualidades para entrar neste jogo e poder ostentar este simbolozinho. Com uma pontinha de orgulho, confesso. É um reconhecimento entre iguais, o que sabe sempre bem. Até porque os comentários no 100 Cabeças não abundam embora eu tenha a sensação que recebo algumas visitas de vez em quando.

Seja como for, mais uma vez obrigadão para o Eduardo.

Devo agora escolher 5 blogs da minha preferência para este "Thinking Blogger Award". Olhando para a coluna de links aí ao lado não é muito difícil.

Os meus preferidos são o Underworld da Alice Geirinhas http://alicegx.blogspot.com/, a incomparável Fada do Lar http://www.fairywonderland.blogspot.com/, o estranheco Opium Bombe do Gonçalo Pena http://www.goncalopena.blogspot.com/, a misteriosa Pandora Complexa do Rui Vitorino Santos e do Júlio Dolbeth http://pandoracomplexa.blogspot.com/, finalmente o verdadeiro Blogger Pensante que é o Pobre e mal Agradecido do Rui Tavares http://ruitavares.weblog.com.pt/.

Pronto, está feito. Não sei se estes meus admirados vão dar seguimento à corrente. Por mim vou colocar o bonequinho aqui ao lado. E deixá-lo ficar!

Viva Odete!

"A senhora deputada Odete Santos cessará funções como deputada no próximo dia 13 de Abril, sendo a sessão plenária do dia 12 de Abril a última em que participará"
Nota retirada de http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/nacional/sociedade/pt/desarrollo/815861.html

Deputada cessa funções
Odete Santos fora do Parlamento
Por Manuel Agostinho Magalhães
O PCP informou que a deputada vai «cessar funções» em Abril. O anúncio ocorre dias depois de uma exuberante participação de Odete no concurso da RTP «Os Grandes Portugueses»

Nota retirada de http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=27564

O grupo parlamentar do Partido Comunista Português (PCP) anunciou esta sexta-feira que a deputada Odete Santos vai renunciar ao mandato e abandonar o Parlamento no próximo dia 13 de Abril.De acordo com a nota emitida pelo partido, «a senhora deputada Odete Santos cessará funções como deputada no próximo dia 13 de Abril, sendo a sessão plenária do dia 12 de Abril a última em que participará», adianta a Lusa, citada pelo Diário Digital.O número dois na lista por Setúbal, Bruno Dias, substituirá Odete Santos e assumirá funções no dia 13 de Abril.Esta alteração tinha sido anunciada pelo líder da bancada parlamentar, Bernardino Soares, a 23 de Novembro do ano passado. Nessa altura, Odete Santos terá justificado a sua saída com o cansaço de algumas vertentes da actividade parlamentar, recusando divergências com o partido.
Notícia retirada de http://www.fabricadeconteudos.com/?lop=artigo&op=c81e728d9d4c2f636f067f89cc14862c&id=6f195ab14e32460ef99810068d25f721

Etc., etc., etc.
A notícia é importante, toda a gente comenta o assunto (pelo menos aqueles que sabem o que é a Assembleia da República comentam!). Nota-se uma certa rigidez irónica em algumas das notas acima transcritas. Perante uma personagem como Odete Santos é difícil manter a compustura. pela forma apaixonada e quase tresloucada como sempre defende as causas em que acredita. Mulher de convicções inabaláveis, abandona o lugar que ocupou no Parlamento ao longo de 26 anos!!!
Cá pra mim, que sou insuspeito uma vez que não morro de amores pelo PCP, vai ficar um lugar meio ocupado na bancada do partido quando ela sair. Aliás, o Parlamento tem vindo a ficar mais pobre com o passar dos anos. Têm saído alguns idealistas que vão sendo substituídos por autênticos carreiristas. A nossa democracia vai fenecendo como flor em jarra com água choca.
Mas este post pretende ser uma singela homenagem a Odete Santos pelo que termino dizendo que esta mulher me comoveu profundamente por ocasião de uma Festa do "Avante!" quando me cruzei com ela enquanto declamava um poema, ali mesmo, na berma do caminho. Fazia-o com tal assombro e paixão arrebatada que eu (e, decerto, todos os que a ouviam) senti uma comoção sincera como só costumo sentir quando me confronto com aquilo que me soa verdadeiro. Ah, grande Odete, estavas linda!!!

Obituário

SOL LEWITT / Wall drawing
Sol Lewitt @ Met Roof Garden


O artista norte-americano Sol LeWitt, um dos principais nomes da arte conceptual, faleceu no domingo em Nova Iorque, vítima de cancro.LeWitt, de 78 anos, nasceu em Hartford, numa família de imigrantes russos, formou-se na Universidade de Syracuse, Nova Iorque, e viveu nos últimos 20 anos em Chester, no estado de Connecticut.Muito do seu trabalho artístico baseou-se em variações com esferas, triângulos, cubos e outras formas geométricas. Na opinião da crítica, o artista contribuiu, com a sua obra, e em particular com os desenhos murais, para uma reavaliação das relações entre os conceitos e os materiais.
Nota retirada de "O Primeiro de Janeiro" online http://www.oprimeirodejaneiro.pt/

Lá vai outro! Quando um artista morre sinto sempre uma certa indisposição, não sei se pequena ou grande, é um buraquito que se revela em lugar até aí insuspeito. Uma falha, uma falta, uma ausência apenas atenuada pelas imagens que ficam.
Não sou grande apreciador de arte conceptual. Esforço-me por compreendê-la mas não sinto entusiasmo particular. Nesse aspecto sou muito conservador e continuo fascinado pelos "primitivos" flamengos acima de todos os outros (Van Eyck é Deus).
Isso não me impede de admirar quem possui uma visão e a partilha com o mundo de forma honesta e apaixonada, por muito distante que se encontre dos meus paradigmas maiores.
Sol LeWitt foi um artista apaixonado e coerente, contribuindo com o seu trabalho para a construção de um certo imaginário moderno e contemporâneo.
Que descanse em paz e encontre Deus.

terça-feira, abril 10, 2007

A coisa mais séria do mundo

As eleições timorenses para a presidência da república decorreram ontem. 8 candidatos apresentaram-se ao eleitorado que, segundo rezam as crónicas, acorreu em massa às mesas de voto.
Apesar de toda a confusão e violência, os timorenses agarram-se ao voto com a convicção de ser esta a única forma de poderem participar na mudança das condições de vida miseráveis que continuam a suportar.
Os textos de Paulo Moura nas páginas do Público têm dado imagens fortíssimas do que por ali vem acontecendo. Numa escrita límpida e directa, Paulo Moura consegue levar o leitor num vôo imediato até Díli e colocá-lo cara-a-cara com os eleitores que aguardam pacientemente a sua vez nas longas filas das assembleias de voto.
"Para milhares de timorenses, votar é a coisa mais séria do mundo. Por todo o país, das ruas imundas de Díli às aldeias isoladas das montanhas, esperaram horas ao sol, em filas intermináveis."
A esperança que sustenta o acto cívico dos timorenses há muito que desapareceu de entre nós, portugueses. As taxas de abstenção em actos eleitorais no nosso país são de fazer corar um cadáver. Em Portugal e no resto dos países da União Europeia. Comparada com a dos timorenses, a nossa fé nas virtudes do sistema democrático há muito que se perdeu, algures entre um passeio ao centro comercial e uma tarde ensolarada nas areias da praia.
Não deixa de ser comovente verificar que, no início, a Democracia é capaz de ser encantadora.
"Em cinco anos de independência [os timorenses] não vislumbraram uma única razão para acreditar na democracia. Os líderes que elegeram deixaram empobrecer ainda mais aquele que já era um dos países mais pobres do mundo. Depois lançaram-no na violência. Por fim chamaram as forças estrangeiras para evitar o massacre do país onde 200 mil pessoas morreram para o libertar de forças estrangeiras."
Mesmo assim e apesar de tudo, ontem lá estiveram, aos milhares. E votaram.
O mínimo que se exige é que o processo seja limpo e o vencedor seja aquele que, realmente, mais votos recolheu.
"Quando fecharam as urnas, em muitas assembleias os delegados vieram para as ruas contar os votos, para que todos vissem como o faziam seriamente. «O voto é a coisa mais séria do mundo», disse ao Público um homem descalço e desdentado vestindo uma camisa rota. E vota em quem? «Secreto»."
Depois disto... haja fé e Deus os livre de (mais) um banho de sangue.

segunda-feira, abril 09, 2007

Atenção gente!

Acabei de ler um post que me deixou a pensar.


O VARAL, EM POSTAGEM EXTRAORDINÁRIA , REPERCUTE A POSTAGEM, DE HOJE, DO
BLOG SULISTA .
CENSURA CHEGOU A BLOGOSFERA
O assunto é sério e recomendamos que visitem e leiam a notícia.
Clique aqui


Estará a preparar-se uma tentativa de transformar a Blogosfera em algo mais... formatado? Andam por aí mãozinhas invisíveis com vontade de mexerem em algo que, se calhar, não precisa de ser mexido. É como aqueles escuteiros que ajudam a velhinha a atravessar a rua quando ela não queria sair dali.
Talvez devamos estar atentos.
Questão a seguir sem distracções.

Vivam os Gatos, abaixo os cães sarnentos!

Câmara manda retirar cartaz do «Gato Fedorento»
A Câmara de Lisboa vai mandar retirar um cartaz do grupo humorístico« Gato Fedorento», colocado «ilegalmente» no Marquês de Pombal, que satiriza outro cartaz contra a imigração colocado pelo Partido Nacional Renovador (PNR).

Esta história conhece desenvolvimentos lamentáveis. Como já era de esperar a Câmara Municipal de Lisboa mostrou, uma vez mais, a sua capacidade de meter nojo, à imagem do que acontece com a generalidade das instituições públicas da nossa praça.

Pior ainda, os energúmenos encapuzados do costume vieram ameaçar os "Gatos" de represálias infames, mostrando como não são capazes de conviver de forma decente num espaço democrático. Retiro o que disse alguns posts abaixo. Estes fascistas de trazer por casa não merecem sequer uma oportunidade de diálogo, não merecem nada a não ser desprezo e declaração de ilegalidade. Não prestam para nada e não podem ser aceites no convívio democrático. Não há nada a dizer a estas caricaturas de seres humanos.

Quanto aos "Gatos" fica o agradecimento de terem tido a coragem de tomar uma posição pública numa cidade que os não merece enquanto eleger representantes tão miseráveis como os que actualmente ali detêm o poder. Sim, porque se Carmona é Presidente da Câmara a culpa não é só dele, muito longe disso.

Vivam os Gatos, abaixo os cães sarnentos!

Magia!

Se há coisa que me complica a capacidade de raciocínio é a forma como as novas tecnologias (que envelhecem a olhos vistos, mas pronto!) são postas ao serviço da população portuguesa. Não falo do Personal Computer em cada home ou do LapTop em cada corner, falo dos serviços oficiais, estatais e outros, embrulhados nos pacotes simplex, com chancela do governo da República e despachados à balda para parte incerta.
Dois exemplos recentes: o concurso de professores e o processo de atribuição de subsídios para produções pontuais nos campos de várias formas de expressão artística (Teatro, Dança, Design, etc.) promovido pelo Instituto das Artes.
No primeiro caso temos o Ministério da Educação como responsável pelo processo. Não sei ao certo em que pararam as modas, sei, apenas, que, nos últimos dias de aulas do 2º período havia muita gente que não era capaz sequer de perceber o que se estava a passar. Professores a quem era impedido o acesso ao site do concurso, outros que reclamavam de irregularidades e desapareciam na virtualidade do espaço informático, enfim, uma montanha de problemas. Mais uma vez. Mas porque acontece isto? Não bastaram as péssimas experiências anteriormente acumuladas em processos similares? Os serviços do Ministério da Educação não aprendem nada com os próprios erros? Pelos vistos aprendem pouco (estou a ser benevolente na minha apreciação) uma vez que não são capazes de fazer o seu serviço sem desarranjarem os nervos dos concursantes por uma vez que seja!
No caso do Instituto das Artes (IA) aconteceu algo do género. O prazo da entrega das candidaturas já foi duas vezes adiado devido aos trambolhões dados pelo sistema informático que entupiu de forma ridícula, provocando o caos, como de costume.
Consultando o site do IA podemos agora ler:
PROGRAMA DE APOIO A PROJECTOS PONTUAIS 2007
GESTÃO ELECTRÓNICA DE APOIOS
AVISO
No âmbito do Programa de Apoio acima identificado, comunica-se a todos os interessados o termo dos prazos de apresentação das propostas, por área artística:

- Música e Artes Plásticas incluindo Fotografia: dia 11 de Abril;
- Arquitectura, Dança e Teatro: dia 12 de Abril;
- Transdisciplinaridade e Design: dia 13 de Abril.

Pois, estes prazos serão para entrega de projectos. Faltará depois apreciá-los, avaliá-los e atribuir as verbas devidas. Os problemas continuarão por aí adiante, uma vez que 2007 já vai quase a meio e ainda andamos nisto. Não deveria o prazo deste conscurso ter expirado para aí em Novembro de 2006, para que em Janeiro os candidatos pudessem ter a possibilidade de organizarem o seu trabalho com um mínimo de segurança?
Tudo isto se passa num clima de total impunidade e sem que se conheça qualquer responsável pelos sucessivos descalabros dos serviços. É fado.
Enfim, a informática continua a ser uma espécie de magia branca, umas vezes e outras vezes negra (muito negra mesmo) mostrando como as instituições públicas do nosso país estão longe de se darem bem com a contemporaneidade. Melhor dizendo, não se dão bem com coisa nenhuma, muito menos consigo próprias!

quinta-feira, abril 05, 2007

Viva o Gato!

O cartaz dos Fedorentos é uma agradável surpresa. Já sabíamos que eles são atentos e interventivos. Agora ficamos a saber que não têm qualquer receio em assumir publicamente as suas convicções. O humor dos Gato Fedorento ganha (ainda mais) credibilidade.
Viva o Gato!!!

Os legionários

Como serão seleccionados os gestores de empresas públicas? Os da EPUL parece que já se sabe. Têm de ser militantes do partido que estiver à frente da Câmara Municipal de Lisboa. Ora do PS ora do PSD, não consta que tenham de possuir currículo particular na área do mercado imobiliário porque isso não é preciso para nada. A coisa é escandalosa.

Já para não falar naquele gajo que foi professor de José Sócrates na Universidade Internacional, um tal de António Morais. Alguém sabe quem ele é? A opinião pública começa agora a ver-lhe melhor o perfil. José António Cerejo traça-lhe um retrato nas páginas do Público de hoje.

É impressionante a sucessão de incoerências em que se vê envolvido este engenheiro (para ter sido director do curso de Engenharia da Universidade Independente presumo que seja engenheiro!). Ao ler o texto de Cerejo fica a sensação que Morais dá o dito por não dito com uma facilidade desarmante e atropela as regras mais básicas com semelhante desenvoltura. Com dois processos em cima por absentismo em universidades por onde passou e uma série de acontecimentos extraordinários a dourarem-lhe o quotidiano, este senhor ainda conseguiu ser nomeado por José Sócrates presidente do Instituto de Gestão Financeira e Patrimonial da Justiça no ano de 2005. Mas também fora director do Gabinete de Estudos e Planeamento de Instalações (GEPI) do Ministério da Administração Interna, etc. e tal.

Não interessa estar para aqui a desfiar as contas deste rosário, para isso temos o texto do Público, o ponto que quero evidenciar é o facto de haver para aí uma legião de mercenários que vai saltitando de empresa em empresa, ocupando lugares de gestão com sérias responsabilidades, sem aquecer o lugar. Ou porque o partido que lhe pôs o tacho debaixo dos queixos perdeu as eleições ou porque afinal não é tão honesto como tinha parecido ao Ministro no jantar do clube, corre-se com a personagem mas ela logo volta a surgir, mais lá à frente, noutro poiso bem quentinho como se nada se tivesse passado.
Mas quem são estes gajos e como conseguem eles estar sempre onde não devem mas querem estar?
No caso deste Morais a coisa pia mais fininho. Posto sob os holofotes mediáticos por via da embrulhada do diploma do primeiro ministro, António Morais mete os pés pelas mãos num número de contorcionismo que começa a ganhar um aspecto verdadeiramente patético. E é assim que somos confrontados com um homem que ou é pouco honesto ou então é muito distraído e que, apesar disso, tem um curriculum vitae recheado de cargos de responsabilidade e com resultados vulgarmente desastrosos. Como chega ele aos cadeirões? Mistério. Mistério? Talvez não. Eles são tantos que os que são honestos e trabalham bem nem parecem existir.

Dá a sensação que, uma vez metidos nos seus fatos escuros só com a cabecinha de fora, enfeitada com colarinho e gravata, qualquer um tem imagem de gestor público ou doutor da mula russa. A partir daí, é fartar vilanagem!
Nota: As personagens da foto estão ali só para ilustrar o gajo do fatinho uniforme. Não têm nada a ver com isto, são de outro campeonato.

quarta-feira, abril 04, 2007

O Mostrengo

Tão atrapalhados ficámos com a "eleição" do António "Botas" Salazar como o Maior Português de Sempre da RTP que nos esquecemos da votação paralela que o considerou, em simultâneo, o Pior Português de Sempre (ver resultados em http://piorportugues.blogs.sapo.pt/11685.html).
Também aí ganhou a medalhinha de ouro o que mostra como nos lembramos bem da personagem. Amado ou odiado, Salazar continua a assombrar Portugal com a sombra do seu nariz adunco. Talvez agora possa descansar em paz, comidinho que já foi pelos vermes de serviço, e deixar-nos seguir em frente sem termos de lhe prestar contas nem o insultar de vez em quando.
Vá lá, António, fica onde estás que é o teu lugar: morto e enterrado.

Excelente Coisa Ruim

Mais um serão em família para ver um DVD alugado no clube (indevidamente designado) de vídeo. Coisa Ruim é um filme interessante que está para lá da classificação de "filme de terror" que lhe é associada.
O ambiente criado é bem português. A aldeia, os padres, a casa, a estranheza que tudo aquilo causa aos burgueses recém-chegados e que eles causam a tudo aquilo, são factores que contribuem para o adensar da narrativa que acaba por atingir momentos de "cortar à faca".
Excelentes interpretações de todos os actores com relevo para Adriano Luz e Manuela Couto.
Um argumento escorreito e uma realização cuidadosa, com enquadramentos irrepreensíveis, completam-se numa montagem eficaz.
A versão a que assisti apresenta apenas alguns defeitos no som que, decerto, são responsabilidade da editora do DVD e não da equipa que construiu tão esmerado objecto cinematográfico.
Em suma, mais um exemplo de que não é a produção industrial que confere selo de qualidade ao cinema mas sim a inteligência de quem o concebe e realiza.
Quem ainda não viu que veja!!!

terça-feira, abril 03, 2007

Problemas laterais

A extrema-direita em Portugal é uma espécie de fantasma que assombra os sótãos desabitados e poeirentos de certas cavernas cranianas mais aliviadas de massa cinzenta.

Todos sabemos que qualquer posição se enquadra num sistema tríptico de coordenadas. Temos o painel central, a asa direita e a asa esquerda. As posições políticas também andam assim entendidas. Poderemos falar de "direita", "extrema-direita" e... caramba, como designaremos os gajos mais posicionados lá do outro lado, "esquerda-direita"? "Extrema-esquerda da direita" (assim quase a dar para a ala direitista de um partido do centro)? Ou será que não há esquerda que valha à direita nem vice-versa?

A direita portuguesa (a menos extremosa) vive dias complicados. Vive-os desde 1974 pois, apesar de o Maior Português de Sempre da RTP ter sido Salazar, após 48 anos de regime saloio não restaram muitos cidadãos dispostos a apoiar um modo de fazer política e de atrapalhar a vida alheia que mostrou a sua incapacidade em construir um país que se visse. Sob a dominação salazarista Portugal quase desapareceu do mapa das nações civilizadas. A crise da direita vem daí ou por aí ficou e não se vislumbra grande regresso a um espectro político que tem em Paulo Portas o seu médium principal.

Seja como for, esta direita lá se encaixou como pôde no regime democrático e, por muito que me custe afirmá-lo, tenho de reconhecer que, sem ela, o regime fica incompleto. Mas há a tal asa direita do tríptico, a tal extrema-direita, que teima em não encontrar forma de mostrar à sociedade que tem capacidade para entrar no "jogo" da Democracia.

Estes escondem-se, fintam, trapaceiam, mentem e desmentem, são violentos e fundamentalistas... peço desculpa de não ser capaz de lhes encontrar uma virtude que seja e peço desculpa também por não ter paciência suficiente que me permita elencar todos os seus defeitos e podridões. Eles estão aí. Algures. De vez em quando mostram-se à luz do dia e ficamos sem saber se havemos de rir da sua infatilidade brutal e da tacanhez das suas palavras de ordem ou se devemos preocupar-nos por serem assim, tão infantis, tacanhos e abrutalhados.

Infantilidade, tacanhez e brutalidade não são crimes previstos no código civil mas em doses cavalares constituem um risco social que não deve ser menosprezado.

Seria muito importante trazer estas crianças grandes para a luz do dia, pô-las a falar e a debater (na medida do possível) as suas perspectivas políticas e sociais. Confrontarmo-nos todos aos olhos de todos e não apenas nas sarjetas de ruelas escuras quando os animais atacam em bando e esfrangalham uma vítima indefesa pelo simples prazer de fazer mal. O problema é que há alguns desses animais, por aí, à solta, quando o seu lugar é numa jaula!

segunda-feira, abril 02, 2007

Heroísmo pós-moderno

Ainda não tinha ouvido falar muito da personagem. Acho que lhe tinha passado os olhos por cima e ao de leve nalgum zapping mas deve-me ter parecido igual a muitas outras coisas que se mastigam e deitam fora depois de perdido o sabor. Notei o nome quando, num questionário mais ou menos informal que fiz aos meus alunos de Arte e Comunicação do 7º ano de escolaridade (idade média 12 anos), aparecia insistentemente: "Qual a tua série de TV preferida?" Dr. House, Dr. House, Dr. House... foram tantos os pirralhos que escreveram o nome do Dr. House que fiquei curioso. Evidentemente. Na primeira oportunidade vi um episódio mais ou menos completo.
Ainda estou meio confuso; o que terá o Dr. House de tão apelativo para a criançada? Não seria de esperar que tivessem outro tipo de preferências? Algo mais dirigido a eles? Há tanto "pedopsicólogo", tanto especialista em marketing e universos juvenis envolvidos na criação de conteúdos televisivos para aquela maltinha e logo haviam de se tomar de amores por uma série que não me parece, de todo, a eles dirigida! Mistério.
O Dr. House é vaidoso, convencido, assertivo, coxo e, como se tudo isto não bastasse, fala de coisas incompreensíveis, questões médicas estranhíssimas e farta-se de meter o nariz onde, à partida, não parece ser chamado. Estas qualidades da personagem poderiam parecer defeitos mas não parecem incomodar a catraiada, antes pelo contrário.
Lá vai a Era dos Heróis, do Tarzan e do Texas Jack, do Zorro e do Robin Hood, em que as aventuras se passavam ao ar livre, em tempos idos ou locais exóticos. O Herói dos "meus" miúdos passa o tempo fechado num enorme edifício, uma clínica ou hospital ou lá o que é aquilo e, em vez de um par de colts ou um arco-e-flechas anda apoiado na sua bengalinha a abanar seringas e sacos de soro.
Não há dúvidas que atrás dos tempos vêm tempos mas, depois de uma cena destas, sou incapaz de imaginar que outros tempos hão-de vir!

domingo, abril 01, 2007

1º de Abril (uma citação)

Picasso terá afirmado que "a pintura é uma grande mentira que nos ajuda a compreender melhor a verdade" acrescentando mais adiante "na medida em que formos capazes de a compreender".
Não tenho a certeza que seja assim, muito menos que assim tenha sido. Interessa-me a suspensão que resta cá dentro depois de ler a frase. Uma suspensão semelhante à que se exige ao pintor de cada vez que pretende dar uma obra por concluída, um suster de respiração a provocar a tontura, uma vertigem de dúvida. Terminar uma obra é um momento complexo que não está ao alcance de todos e nunca ao alcance dos que acreditam que uma obra pode estar, alguma vez, concluída. Quanto mais não seja o espectador irá "pegar-lhe" de novo e, através dela (da sua mentira), tentar compreender alguma verdade que por ali ande meio esquecida.
Grande Picasso!

1º de Abril


Hoje é dia das mentiras. Vai na volta já engoli alguma e nem dei por isso. É coisa que não me preocupa visto que sou enganado com frequência. Umas vezes de propósito, outras vezes, acredito, sem querer, a mentira é quase tão banal quanto a verdade. Daí que convivam de forma tão pacífica, como duas siamesas paralíticas unidas pelo recto.
Vendo bem as coisas (não exactamente tal como elas são) a verdade e a mentira acabam por constituir meros pontos de vista. Se pudessemos entrar na mente uns dos outros decerto ficaríamos estupefactos e fascinados com as alterações que a realidade, observada a partir do interior de um corpo desconhecido, nos ofereceria. A vertigem de um mundo exactamente igual mas assombrosamente diferente é o Nirvana. Sempre adiado, eternamente atrasado, impossível Nirvana.