segunda-feira, dezembro 04, 2006

Ambições

"Não passa um mês sem uma candidatura portuguesa ao livro das bizarrias [Guiness]: se não é a feijoada mais comprida em cima de uma ponte é a do maior clube do mundo que não chega aos "oitavos" da Liga dos Campeões. (...) Querer ser muito esquisito é um sintoma de não sei o quê, mas parece-me grave."

Ferreira Fernandes. Correio da Manhã, 3 de Dezembro de 2006

Quer-me parecer que esta sequência de recordes batidos no nosso país mostra como o povo português tem potencialidades extraordinárias só não sabe muito bem como aplicá-las. Revela algo sobre o nível cultural e uma certa infantilidade latente. Quem não gosta de surpreender os seus parceiros com um feito extraodinário? Os putos estão constantemente a discutir na tentativa de mostrarem aos outros capacidades inultrapassáveis e surpreendentes. Há sempre um pai que é mais forte ou um tio que tem uma espingarda maior. A competição está-nos na massa do sangue, é necessário libertar as energias correspondentes!

Penso que queremos ser muito esquisitos porque encontramos aí uma possibilidade de mostrar capacidades extraordinárias que, de outro modo, não teriam expressão visível.

Claro que poderíamos bater-nos por ser o povo mais inteligente da Península Ibérica ou com o maior número de cérebros capazes de brilhar no campo da Matemática. Mas isso levaria demasiado tempo a alcançar e não teria êxito garantido. Assim sendo resta aos portugueses encontrar o respectivo nicho de bizarria no qual possam evidenciar-se e bater toda a concorrência sem apelo nem agravo.

Somos mais ou menos célebres pela nossa capacidade de desenrascar soluções mirabolantes perante situações de difícil aperto (veja-se a História dos Descobrimentos, por exemplo) e no Guiness encontramos campo fértil para uma sementeira de loucuras capazes de germinar em glória garantida se bem que efémera ou até inconsequente. Não há grande mal nisso!

Poderíamos investir esforços em assuntos mais sérios ou ambicionar algo que possibilitasse maior conforto geral e mais riqueza produtiva, mas não nos dá para aí! Resta o grotesco Guiness Book of World Records. Apostemos na bizarria, sejamos malucos ao ponto de tentar as coisas mais absurdas por sistema. Quem sabe não viremos um dia a criar uma categoria inovadora nas páginas do citado book: o povo mais abstruso, primeiro da Europa, depois do Mundo e, um dia que virá, de todo o Universo!

Com um pouco de esforço temos esse título ao alcance de um desejo colectivo.


Sem comentários: