terça-feira, novembro 07, 2006

Subsídiodependentes


Três famosos subsídio dependentes:
Mozart, Leonardo e Moliére

Rui Rio demonstra ser uma espécie de déspota iluminado. A sua decisão de cortar os subsídios para a cultura na cidade do Porto mostra como está muito à frente da nossa época no que respeita a perspectivas de governação da coisa pública.
A arte só é Arte quando tem a caução do público. Se o povo não adere ao porjecto de um artista é prova segura que esse projecto não presta.
Parece evidente que todo e qualquer criador que não tenha público e não consiga subsistir com o resultado liquído do fruto do seu trabalho só pode ir estender a mão para a porta da igreja aos domingos de manhã. Ah, grande Ruca, se não fosses tu não teria nunca compreendido tamanha evidência que sempre esteve ali, à frente do meu nariz e eu sem perceber nada!
Mas, Rio, meu amiguinho, terá sido sempre assim? Ponho-me a pensar e o meu nariz, teimoso como uma mula, começa a tapar a evidência. Se não tivesse havido déspotas que exploravam o povo para depois erguerem pirâmides e construirem palácios (oh, Versailles...), se não tivessem existido papas mais vaidosos que a deusa da beleza (oh, Sisto e a sua capela...), se não tivesse havido tanto investimento a fundo perdido em obras de arte que, ainda por cima, eram para consumo de reduzidíssimas elites o que seria da grandiosa história da humanidade tal como hoje a conhecemos?
Leonardo teria podido explanar todo o seu génio caso não andasse constantemente de mão estendida a saltar de patrono em patrono, à procura de bem-estar pessoal? E que dizer do imortal Mozart, esse verdadeiro pedinchão?
Caramba, ouvindo o que dizes e seguindo o teu raciocínio, caro Ruca, as coisas parecem evidentes. Mas quando penso durante... digamos, trinta segundos, tudo isso me parece uma tremenda estupidez e, de repente, vejo-te apenas pequenino e rancoroso, incapaz de ganhar dimensão suficiente para desempenhares o cargo de que foste investido.
Mas, decerto, estou enganado. Tu és um gajo do caraças, nós é que não te compreendemos.

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