sábado, outubro 07, 2006

Televisão

"Quem vê TV
Sofre mais que no WC"

Estes versos maravilhosos eram cantados por João Grande, vocalista dos Táxi (quem se recorda?) e estão bem como ilustração para o que se segue.

A SIC celebra 14 anos de existência com um desfile grotesco Avenida da Liberdade abaixo. Auto-intitulando-se como "a televisão do povo " e tendo em conta as personagens que ornamentam o desfile muito está dito mas pretendo apenas acrescentar qualquer coisinha.

Quando, há 14 anos atrás, surgiram as televisões privadas, um dos argumentos que mais entusiasmavam o pessoalinho era a miragem da diversidade. Habituados a uma RTP refém dos poderes políticos e outros de natureza menos evidente, os portugas viam com alguma ansiedade a possibilidade de terem ao seu dispor algo completamente diferente.

A coisa começou logo inquinada com a atribuição de um canal à igreja católica, mas o povão virava-se, principalmente, para a SIC já que da igreja não esperava nada que não tivesse já comido até ao vómito.

Passados 14 anos constatamos que não podia ter havido maior ilusão! Afinal a diversidade era um engano grosseiro já que as diferentes televisões adoptam uma estratégia de marcação cerrada. Se um canal transmite novelas ás 7 horas o outro responde com o mesmo tipo de produto e por aí fora até termos clones horrendos em constante actividade nos écrãs, 24 horas por dia.

Basta dar uma olhadela às programações no jornal. O chamado horário nobre, a parte do dia em que a população portuguesa pasta e rumina programas de televisão, os canais abertos passam mais ou menos o mesmo tipo de produtos. Concursos, novelas, telejornais, uns por cima dos outros, tudo a mesmíssima merda. A diversidade era uma mentira calculada.

Doses cavalares de publicidade, uma imbecilização despudorada, o elogio da boçalidade são aspectos característicos da oferta televisiva. Para um povo de brutos programas feitos à medida. À brutidão oferece-se embrutecimento e assim, num crescendo vulcânico, teremos um dia uma explosão tal de rasqueirice humana que o país ficará submerso em merda por séculos e séculos fazendo jus ao destino que traçou para si próprio desde o 1ª dia. É a felicidade prometida.

Poderia estar para aqui a bater no ceguinho o dia todo mas, como eu próprio faço parte do ceguinho fico-me por aqui. Estou a precisar de ir ali, ao quarto de banho.

4 comentários:

Anónimo disse...

Perdoa-me a vaidosice, mas é por estas e por outras que me orgulho de viver, deliberadamente, sem televisão há uns 13 ou 14 anos...

Silvares disse...

Isso é quase a idade da minha filha. Imaginas uma criança que cresça sem televisão? Só conheço o filho do Mosca (lembras-te dele?). Mas, mesmo sem Eva, não teria coragem para prescindir do "caixote". Os filmes, o futebol, a alienação... preciso de tudo isso.

fada*do*lar disse...

Eu compreendo isso.
A minha opção de não ter TV é porque sei perfeitamente que passaria metade da minha vida especada em frente ao écran, sem grande capacidade de triagem...
Para a necessária alienação encontrei outras "alternativas" para acumular informação e bem... perder tempo!
ai a net... ai a net... <:o)

O Mosca? O Mosca? Ai... que o nome me está a martelar a memória, mas... puff.

Silvares disse...

Puff, puff, sorte a tua.
:~)