sábado, setembro 30, 2006

30 desenhos

Poema Escondido Com o Rabo à Mostra, tinta-da-china; acrílico, guache, esferográfica, pastel e guache sobre papel

1ª fila: Queen of Hearts; O Anjo de Cabul; Salvação; O Anjo da Guarda; Homem Dúvida; Eu Não Sei Quem Tu És; O Anjo de Freixo-de-Espada-á-Cinta; O Grande Dadamax; O Grito; Tocha Humana.
2ª fila: O Anjo da Covilhã; A Prima da Bailarina; Nós Vida; O Anjo de Viseu; Cadáver Aflito; O Grande Quíron Oferece Uma Prendinha ao Sr. Silva; Nico e Zé Arrumam o Homem; Lone Ranger's Dad; Sr. Normal; Sociedade Recreativa ou O Virgem Pai.
3ª fila: Nado Morto; Puro Sangue; Sr. Não-Sei-Quê; Papado Por Um Azar; O Homem do Taco; Here's a Happy One!; Fantasma do PAssado Passeia Bicho do Presente; Spiritu Sanctus; Lá Vai o Papa Ter Com o Papá; Uma Coisa Nem Boa Nem Má.

Duas bolinhas e uma espiral

A Senhora na Água é, talvez, o fime menos eficaz de Shyamalan. De acordo. Porque a trama não fecha, no final, como acontecia nos outros, numa reviravolta inesperada do argumento. O final deste filme vai-se anunciando desde o início e acaba por se confirmar abrindo a narrativa para fora do écran. Ao contrário dos outros filmes, que pareciam preencher o espectador, este acaba por lhe abrir um espaço no peito que arrisca esvaziá-lo.

Daí a considerar A Senhora na Água como um mau filme vai uma certa distância.
Talvez haja alguns apontamentos muito discutíveis. O papel que Shyamalan distribui a si próprio é um deles. A forma como os acontecimentos vão sendo antecipados por uma das habitantes do condomínio onde se desenrola a acção, uma velha senhora coreana, tem momentos pouco felizes, na minha opinião. Mas, mesmo assim, o desvelo com que os críticos têm ruminado o filme para depois o vomitarem com desprezo talvez se explique pela personagem do crítico de cinema.

Há um crítico de cinema que é retratado com igual desdém no filme. O argumento vai abrindo possibilidades de ele ser algo mais, algo melhor, mas, no fim, o crítico não passa de uma espécie de palhaço triste e ignorado pelos outros. Se eu fosse crítico de cinema iria achar a coisa de péssimo gosto.

Finalmente há um actor com momentos brilhantes. Paul Giamatti consegue dar uns quantos nós no coração e na garganta em momentos que, entregues a outro performer, poderiam resultar caricatos. O homem tem pinta!

Resumindo, se eu fosse crítico não daria uma bolinha ou apenas duas estrelas a este filme. Digamos que lhe assentam bem duas bolas e uma espiral, só para enfeitar e mostrar a saída da sala.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Bolas e estrelas

Os críticos cinematográficos exercem uma estranha actividade quando tentam traduzir em estrelas ou bolinhas as suas doutas opiniões sobre os filmes que vão vendo.

Pergunto-me se irão aos filmes com o fastio próprio de quem se vê obrigado a cumprir uma tarefa profissional independentemente da vontade em o fazer ou não. Serão obrigados a ver tudo ou só algumas coisas? Apenas o que imaginam poder vir a apreciar com gosto ou escolherão filmes que sabem de antemão ir odiar profundamente?

Hoje irei assitir à projecção do mais recente filme de Shyamalan. A fiar-me na opinião unânime da crítica especializada melhor será ficar em casa ou alugar um filme iraniano no clube de vídeo (não deveriam chamar-se antes clubes de DVD?). As opiniões assassinam por completo o objecto e deixam o eventual espectador com os dois pés atrás, fora da porta.

Verdade, verdadinha, vi todos os filmes anteriores deste realizador e gostei tanto de todos que estou disposto a arriscar mais uma vez. Lady in the water poderá até ser uma seca, ser patético, pretensioso, uma merda, em suma. Poderá ser isso tudo, mas seria impossível deixar em branco o espaço desse cromo na minha caderneta de Shyamalan.

Mesmo que a partir de agora a sua obra perca fôlego e grandiosidade, este realizador já ganhou um espaço próprio na minha mente ou no meu espírito (não sei bem ao certo), o suficiente para não querer perder nada do que vá fazendo. Além do mais sei bem que a genialidade artística não é uma constante. É mais uma variável algo imprevisível que, quando transformada em rotina, gera objectos sempre semelhantes.

Há quem se deslumbre com a coerência das obras de determinados artistas. Eu não. Pessoalmente prefiro a surpresa e o inesperado, o resultado imprevisto. As coisas nem sempre correm bem e será impossível satisfazer um exército de críticos habituados a sentarem os cús na poltrona fiados na sua infalível capacidade de análise que encaram os objectos com a sobranceria própria daqueles a quem já nada surpreende.

Quando o objecto que analisam ultrapassa as suas previsões (sim, os críticos também têm qualquer coisa de videntes) entramos no campo do imponderável. É nessas ocasiões que atribuir estrelas e bolinhas pode revelar-se um alívio para o espírito crítico.

Para mim um filme de Shyamalan nunca poderá ser "dispensável". Mínimo dos mínimos será sempre um filme "a ver".

2º round

Reaproxima-se o debate português sobre a legalização do aborto (ou Interrupção Voluntária da Gravidez em linguagem politicamente correcta). Já andam por aí questões novas levantadas por palavras do Cardeal Patriarca de Lisboa. Será esta uma questão religiosa?

Os defensores da "coisa-tal-como-está" vêm ao debate com novas estratégias. Refinaram o discurso e usam falas mais mansas e menos contundentes. Parece que durante o tempo que decorreu desde o Referendo anterior e os dias de hoje ganharam outra consciência do problema e já estão mais compreensivos se bem que igualmente irredutíveis nas suas crenças e na fé que as anima.

Os defensores da "coisa-tem-que-mudar" continuam mais ou menos na mesma e não cedem um milímetro nas suas convicções e nos princípios que os animam. O debate não promete grande coisa, em boa verdade. Esperam-se mais acusações, demonstrações e o agitar de milhentos papões.

Por mim vejo a coisa como uma questão de saúde pública onde, como tal, deverá imperar o bom senso e alguma frieza de análise. Neste debate há sempre uma grande dose de emotividade misturada com ódios figadais que ressurgem de rompante para confundir os indecisos.

No anterior referendo a participação dos portugas foi o que se viu e nada se alterou. Espero que desta vez haja, pelo menos, uma maior afluência de cidadãos dispostos a deixar a sua opinião em forma de voto dentro das urnas.
Para que não tenhamos de nos envergonhar quando olhamos o espelho e somos nós o que o reflexo nos devolve.

terça-feira, setembro 26, 2006

http://www.irancartoon.com/index.htm

Pawel Kuczynski / Poland

Um site curioso http://www.irancartoon.com/index.htm onde se encontram centenas de cartoons espectaculares incluindo muitos olhares do "outro lado" sobre questões da actualidade internacional. Os cartoonistas árabes têm, como é evidente, leituras diferentes das dos "nossos".

Um exercício de ginástica intelectual aconselhável. Para não deixarmos o cérebro ganhar barriga!

Imagem do paraíso



O paternalismo serôdio dos católicos apostólicos romanos é pecado mortal! Padecem de soberba os que crêem estar dois palmos à frente de todos os outros em matéria de salvação da alma. A forma insidiosa como se referem à necessidade de acreditar no verdadeiro deus é nauseante. Só mentes perturbadas podem acenar com as chamas do inferno, em desespero de causa, na tentativa última de poderem servir mais uma alma para a sobremesa da sua divindade alarve, devoradora de existências humanas. E ali ficam, manápulas atrás das costas, a babarem-se extasiados enquanto assistem ao sacrifício dos pobres de espírito que entram no reino dos céus goela abaixo do deus da fúria, o deus dos exércitos, o deus vingativo que se deleita com o fedor da gordura queimada dos carneiros de Abel e despreza o resultado das colheitas de Caim. Num paraíso a escorrer bedum das nuvens, como uma tasca pouco asseada, não quero eu entrar. Nem deus me lá queria que a gente não se dá.

domingo, setembro 24, 2006

Morto-vivo


Terá alguma vez existido? Osama Bin Laden morreu? Está vivo? Qual a sua importância no tabuleiro do actual movimento terrorista internacional? Perguntas, perguntas, perguntas e as respostas não aparecem nem ninguém as conhece.

Lançadas as sementes da violência, do ódio contra os cruzados, da possibilidade da vitória parcial, da guerra terrorista global, do fanatismo imbecil e fundamentalista, Bin Laden foi passando a ser uma sombra. Até se fundir na paisagem afegã ou nalgum recanto inóspito do Paquistão. Pode até morar aqui, ao fundo da rua, vá-se lá saber!

Nos tempos que correm Bin Laden parece já não ser mais que um símbolo, um ícone de maldade e de esperança, conforme a latitude e o credo de cada um. Morto ou vivo nada muda. Bin laden alcançou o estatuto de mito. Os mitos são eternos.

A obra está feita e é de respeito. O monstro nasceu e agora tem vida própria, já não precisa que o pai o alimente. Nós que o aturemos.

Liberdade de expressão

Em toda a converseta gerada à volta da polémica intervenção do Papa que deixou a "rua islâmica" em polvorosa há um ponto que não tem sido devidamente explorado.

O facto de encararmos Ratzinger como sendo vítima de um mal-entendido por parte de um punhado de radicais inimigos da liberdade de expressão não faz dele um campeão dos livres pensadores. Nem um pouco mais ou menos!

Apesar de pretender fomentar um debate centrado na reflexão sobre a relação entre a Fé e a Razão, a verdade é que Ratzinger está muito longe de ser um defensor da liberdade de expressão. Nem poderia ser de outro modo uma vez que se trata do sum-pontifíce de um religião muito pouco dada ao contraditório. A própria suposta infalibilidade do Papa (posta em causa neste episódio de forma muito nítida) não permitirá grandes polémicas em torno das suas afirmações.

Basta lembrar a sua posição perante uma situação tão básica como a da recente "crise dos cartoons" e a forma como afirmou ser intolerável que se ponham em causa certos dogmas característicos das religiões do Livro. Por aí não merecerá grande (ou nenhuma) solidariedade.

Serviria este episódio para iluminar Ratzinger com alguma humildade caso não se tratasse de uma personagem convicta da superioridade inquestionável da sua fé e respectivos pontos de vista, se assim lhes posso chamar uma vez que pretendem ser verdades inquestionáveis.

"Quem com ferros mata, com ferros morre". Pois é. É lixado!

quinta-feira, setembro 21, 2006

As 3 graças

The Three Graces1639Oil on wood, 221 x 181 cmMuseo del Prado, Madrid
As mulheres pintadas por Rubens. Segue o texto em inglês retirado de http://www.wga.hu/index1.html um excelente site dedicado à pintura e escultura europeias entre os séculos XII e XIX. Indispensável para quem pretende aprofundar conhecimentos nestas áreas. 5 estrelas!!!
The Three Graces is one of the artist's final works. He had portrayed this theme several times since about 1620, but only later adopted the form that prevailed in classical Antiquity, with the three figures forming a circle so that one of them has her back to the spectator.
"They were the goddesses of pleasant charm, of charitable deeds and of gratitude . .. without them nothing would be graceful or pleasing. They gave people friendliness, uprightness of character, sweetness and conversation...They were presented as three beautiful virgins and were either completely naked or clothed in some fine, transparent fabric...They stood together all three so that two of their faces were turned towards the spectator and only one was turned away from him."
Rubens' late painting of three nude figures magnificently illustrates the artist's extraordinary handling of incarnate or human flesh tones. Rubens builds them up using the three primary colours yellow, red and blue. An unusually high proportion of blue is evident here. In this way, the human figure bears the same primary colours that make up the appearance of the world and the entire cosmos, and all that is gathered here in the landscape and flowers, the sky and the trees.

terça-feira, setembro 19, 2006

Morte às magras!

O ideal de beleza feminino não é eterno. Das mulheres pintadas por Rubens, exuberantes de celulite, às modelos escanzeladas que agora se vêem empurradas para a sombra das passerelles espanholas, muita coisa foi mudando.
As imagens de mulheres com anorexia são aterradoras, competindo directamente com as fotos dos campos de concentração nazis ou dos famintos etíopes que nos entraram olhos dentro para revelarem a fome em África.
Não me parece que discriminar modelos por serem demasiado "leves" traga grande proveito ao mundo. Talvez se possa negociar uma quota para raparigas mais cheias nos desfiles. Quem sabe vai surgir um destes dias uma espectacular colecção para números XXL e fazer furor.
Estaremos a assistir aos primeiros passos na direcção de um novo cânone de beleza feminina? Não me cheira, mas lá que seria curioso, disso não tenho dúvidas!

segunda-feira, setembro 18, 2006

Santidade alienígena


O Guia Supremo da Revolução Islâmica iraniana, o "ayatollah" Ali Khamenei, fustigou hoje as recentes declarações de Bento XVI sobre fé muçulmana, argumentando que o discurso proferido pelo Papa na Alemanha é "o último elo" da cruzada lançada pela América contra o Islão.

O delírio é um estado de alma perigoso quando aquele que delira tem responsabilidades perante a opinião pública. Ali Khamenei deve tomar alguma droga demasiado poderosa para os seus frágeis neurónios e o resultado está bem à vista.
Interessado na inflamação até ao rebentamento da pústula, este líder espiritual do povo iraniano está a brincar com o fogo. O que quererá este gajo queimar? Quem quererá ele atirar para as profundezas do inferno?
"Quem brinca com o fogo queima-se" diz o adágio popular.
Queima-se Ratzinger, por ter ido buscar um imperador bizantino que não era para aqui chamado e queima-se Khamenei por ser tão hipócrita no aproveitamneto da soberba papal.
Se Deus existe há-de estar apenas a engendrar a melhor forma de cozer, escalfar, depenar e esfolar estes e outros assassinos da inteligência humana. Mais este que o outro mas, enfim, numa situação tão estupidamente explosiva como esta, venha... Deus e escolha!

domingo, setembro 17, 2006

A ofensa



A polémica em redor do discurso do Papa é mais um episódio algo repugnante no filme da auto vitimização daquilo a que se convencionou chamar a "rua islâmica".
A insistência de alguns líderes islâmicos em representarem o papel de virgens ofendidas é nítido sintoma de má-fé e a cobertura mediática que lhes é dada nos meios de comunicação ocidentais também não cheira lá muito bem.

A susceptibilidade desses homens ao mínimo gesto que considerem ofensivo mantém em fogo lento o suposto choque de civilizações que, ao que parece, interessa propagandear aos sete ventos. A quem aproveita este confronto latente?

Por um lado mantém activos os líderes religiosos islâmicos mais radicais. Por outro lado vai justificando a desconfiança com que nós, os "cristãos", olhamos um mundo árabe que apenas conhecemos em abstracto e que nos habituamos a encarar como sendo um perigo para o nosso modo de vida democrático e para a livre expressão que o caracteriza.

Sempre que surgem imagens de homens árabes irritados, aos gritos, queimando efígies de líderes ocidentais ou bandeiras pelas ruas, a sensação de que há do outro lado uma enorme animosidade em relação a "nós" justifica que nos mantenhamos em guarda e aproveita a estratégia da guerra ao terrorismo, vital para a sobrevivência de Bush e outros como ele.

Para o Islão é fundamental manter em laboração a sua fábrica de mártires e heróis da jhiad que produz constantemente novos ícones de uma suposta anti-cruzada que vendem às suas populações. Para o lado de cá é fundamental manter uma imagem de bárbaros fanáticos que nos odeiam e que é preciso combater à bomba uma vez que, como episódios deste género provam, não há a mínima possibilidade de manter um diálogo civilizado com estes bandidos.

Ratzinger é uma personagem muito pouco simpática. É vaidoso e tem estampado no rosto o pecado mortal da soberba. É olhado com desconfiança por muitos católicos que se tinham habituado a Wojtyla, um papa com uma imagem bem mais bonacheirona e caridosa apesar de ser tão ou mais carismático que este.

Sobre a polémica actual é de salientar a posição da Comunidade Islâmica de Lisboa que, através de um comunicado, apesar de mostrar desagrado pelas palavras do discurso papal, reconhece que ele não pretenderia ofender ninguém tendo apenas sido infeliz no modo como expressou uma determinada opinião. Isto mostra como é possível a sã convivência religiosa num mundo democrático. Basta utilizar o bom senso, ou a graça de Deus, o que lhe quisermos chamar.

sábado, setembro 16, 2006

O Homem Duplo

Quando estive em Londres, no mês de Agosto, este cartaz andava por todo o lado.
Na minha qualidade de velho devorador dos livros de Philip K. Dick isto dizia-me qualquer coisa. Trata-se da adaptação cinematográfica de O Homem Duplo, na versão portuguesa editada pela colecção Argonauta (nº 316), traduzida pelo saudoso Eurico da Fonseca (ainda é vivo?).

As edições da Argonauta são intragáveis. Na adolescência li uns atrás dos outros. Heinlein, Ursula Le Guin, Frederick Pohl, o inesquecível Aldriss. Nos dias que correm é-me absolutamente impossível regressar a essas leituras já que as versões portuguesas são piores que más e o tempo fez de mim um consumidor muito mais exigente.

O que me dói mais é não ser capaz de regressar a Philip K. Dick (nem as edições da Europa América se safam). Ficaram memórias esquemáticas dos contos exemplares deste maluco encartado. Entre elas O Homem Duplo é das mais brilhantes (Blade Runner, Os 3 Estigmas de Palmer Eldrich ou Os Clãs da Lua de Alfa continuam perfeitamente nítidos na confusão das memórias da adolescência) pela extraodinária lucidez com que aborda a fritura dos miolos que é provocada pelo consumo exagerado de drogas.

Em A Scanner Darkly/O Homem Duplo, Dick consegue ser comovente pela lucidez que empresta ao leitor na sua visão alucinada do mundo dos junkies. A personagem central é um polícia de uma força especial ultra secreta que recebe uma missão bizarra. A força policial a que pertence é tão secreta que a sua função é vigiar-se a si próprio e aos que vivem com ele 24 horas por dia...
Os resultados são trágicos e caóticos para o pobre polícia (ou será ele um junkie?) com um final absolutamente inesperado.

A versão cinematográfica conta com o zombie Keanu Reeves, certamente no protagonista, e mais uns quantos actores sem grande chama. Não faço ideia quem seja o realizador (não me dei ao trabalho de procurar) nem nada disso me interessa minimamente. Sei que, quando estrear por estas bandas, vou ver, dê lá por onde der.

As adaptações de K. Dick para o cinema nem sempre têm sido particularmente felizes. Talvez O Relatório Minoritário de Spielberg tenha sido capaz de actualizar o extraordinário Blade Runner, obra maior de um cineasta menor (Ridley Scott).

Mas, na verdade, o que interessa isso. O que aí vem será outra coisa e é essa coisa que havemos de ir ver!

quinta-feira, setembro 14, 2006

A beijoca

O mundo do futebol em geral e o do futebol português em particular, não deixam de nos surpreender em cada curva do destino.
Parece evidente que, desde sempre, houve demasiadas falcatruas nos campeonatos nacionais. Talvez isso explique porque razão, além dos crónicos vencedores Benfica, Sporting e Porto, apenas por uma vez, no tempo da outra senhora, o Belenenses (clube que tinha o Presidente Américo Tomás na foto oficial e a Cruz de Cristo como emblema) tenha ganho o campeonato. E que, por razões que começam a ganhar contornos mais visíveis, o Boavista do Major Valentim tenha também alcançado o tão desejado estatuto de campeão nacional numa época mais recente.

Não há regra que se aguente nesse planeta selvagem. Os juízes que constituem os seus órgãos de justiça e disciplinares têm uma formação moral e cívica digna de pequenos delinquentes. Penso que personagens como o Desembargador Gomes da Silva e outras do género serão os principais responsáveis pela total ausência de rigor e de transparência que inquinam o ambiente futebolístico indígena. Estamos a falar de juízes, caramba, juízes que atropelam a lei com o à vontade com que se pisa uma barata e continuam a exercer as suas elevadas funções com pequeno sentido de responsabilidade para não dizer que agem de má fé e são totalmente indignos de se manterem na carreira e no lugar que ocupam. Estes senhores são castigados quando os apanham a abocanhar a botija com este descaramento?

Que os dirigentes dos clubes de futebol sejam vigaristas encartados parece não incomodar ninguém. O discurso deles é tão canhestro, tão cheio de meias verdades e de metáforas complicadas que apenas um iniciado se sente habilitado a compreendê-los. É preciso ler os jornais desportivos e acompanhar os inenarráveis programas televisivos que se dedicam a este complexo universo para se compreender minimamente o “futebolês”. A exposição mediática oferecida a estes paladinos da confusão é prova inquietante do nível cultural do país em que vivemos. Como é possível haver pachorra para aturar, por exemplo, uma hora de entrevista em directo na RTP 1 com o Presidente Fiúza, do Gil Vicente, para citar a mais recente estrela cintilante deste universo?

É tudo uma questão de conjuntura. Quem controlar os órgãos relacionados com a arbitragem e a aplicação das regras está habilitado a vencer. Se não for dentro das 4 linhas será na secretaria, o que acontece todos os anos nos mais variados casos e nas diferentes divisões.

Que os dirigentes não tenham formação à altura das circunstâncias é lamentável mas, enfim, compreensível. Muitos deles são pessoas do povo, formadas no calor da luta pela sobrevivência. Alguns mal sabem ler, outros mal sabem escrever pelo que as leis e as regras lhes fazem, com frequência, confusão. Mas juízes desembargadores e outros agentes da magistratura que se comportam como vulgares criminosos ou mafiosos de meia tigela é de todo intolerável e se não há forma de os castigar pelas suas comprovadas vigarices então este país não presta mesmo para nada e o nosso Estado de Direito é, pura e simplesmente, uma mentira mal intencionada.
Já estou como o outro, quem puser mão nesta pouca-vergonha merece uma beijoca!

quarta-feira, setembro 13, 2006

Pivete

Pires de Lima sugere a possibilidade do regresso de Paulo Portas à direcção do CDS-PP. O ex-ministro da defesa, que tem andado perdido nas catacumbas do esquecimento, ou encomendou a sugestão ou então agradecerá terem-no recordado como chefe.

Seja como fôr já começa a cheirar mal. Já cheira a perfumes caros e camisinhas de sêda, botões de punho e laca suave a tapar a careca. Já cheira intriga e manobras de bastidores, tresanda a populismo de direita que o da esquerda parece já estar instalado e não incomodar o pessoal por aí além.

O pivete incomoda. Acho que o melhor ainda será voltar as costas e dar de frosques. Começo a ficar cansado de ver sempre os mesmos bonecos a fazerem as mesmas cenas com ar de santos padroeiros. O Contra Informação não chega nem aos calcanhares do mundo real.
Nem um pouco mais ou menos!

domingo, setembro 10, 2006

Capitão Tótó


Na véspera do quinto aniversário do 11 de SetembroDurão Barroso quer aumentar cooperação UE-EUA na luta contra o terrorismo
O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, expressou hoje, na véspera do quinto aniversário do 11 de Setembro de 2001, que a União Europeia continua empenhada em aumentar a cooperação com os Estados Unidos da América na luta contra o terrorismo.


Quero apenas recordar que este ponta-de-lança da inteligência humana foi capaz de ter visto provas inequívocas da existência de armas de destruição maciça no Iraque durante a tristemente célebre cimeira dos Açores, onde desempenhou o papel de sopeira.

Ele mais o nosso Ministro da Defesa da altura, o inesgotável Paulinho das Feiras. Como é hoje mais do que sabido foram ambos levados à certa e fizeram o importante papel de idiotas úteis.

O que poderá levar pessoas inteligentes a tornarem-se tão ridículas num papel de bôbo mal representado? Vaidade, estupidez momentânea? O quê, meu Deus, o que pode fazer de nós simples animais quando podíamos ser gloriosamente humanos?

Nada disso os inibe de nunca mais terem falado do assunto, antes conseguem voltar à carga, fiados na nossa costumeira falta de memória. Pois sim, vai-te catar, ó capitão!

Arte, para que te quero?

Foto retirada do site de Banksy http://www.banksy.co.uk/outdoors/index.html
Deve a arte assumir um papel de intervenção política e social? Penso que sim, que é um dever e um direito que assiste ao criador artístico.
Existem outras dimensões artísticas (reflexão sobre os processos e os códigos de linguagem plástica, etc.) que me parecem menores ou, pelo menos, não tão importantes. A arte só faz sentido quando é criada com um objectivo específico de contribuir de algum modo para a transformação do mundo que rodeia o artista. Mas essa transformação não poderá restringir-se a acrescentar apenas mais um objecto aos que ja existem. Esse objecto terá de significar algo, transportar consigo uma perspectiva específica, uma narrativa actuante.

Longe vai o tempo das Vanguardas Artísticas do início do século XX. Quando Cézanne se insurgia contra aquilo que considerava "literatura" na pintura, estava a desenvolver um processo mental na busca de uma linguagem plástica pura. Os Românticos não lhe acharam graça nenhuma. Quando Mondrian concluiu que a Arte constitui uma espécie de Universo Paralelo que não reproduz o mundo circundante, antes cria um outro mundo e o acrescenta a este, atingiu um ponto extremo da reflexão sobre a própria essência do acto criativo. Estes (e tantos outros artistas) abriram vias inovadoras mas, ao contrário do que pretendiam, não esgotaram métodos anteriores nem demonstraram a superiodade da "Arte sm objecto". Os Expressionistas continuaram o seu trabalho e os Dadaístas radicalizaram o processo, subvertendo definitivamente as fronteiras criativas e o universo artístico.

Vivemos um período mais pós-Dadaísta que pós-Modernista. O triunfo nas artes pláticas foi todo ele Dada e não Moderno.
O Modernismo levou-nos até ao cimo de uma falésia onde pudemos observar um horizonte longínquo, sóbrio e despojado na sua beleza misteriosa.
O Dadaísmo faz-nos saltar da falésia sobre o vazio, cantando a plenos pulmões. Uma vez lá em baixo avançamos em direcção ao tal horizonte longínquo, não importa se temos as penas partidas ou perdemos a cabeça pelo caminho. O que interessa é o que vai acontecendo enquanto avançamos.

sábado, setembro 09, 2006

Sem título

Com Título, acrilico sobre papel, RSXX 2005
Incomoda-me sempre que encontro aquela coisa... "sem título"! Como pode alguém criar uma imagem e não lhe dar um título? Está à espera que o espectador decida, que participe no acto criativo, que encontre os caminhos sem um guia... o quê? Andamos ainda a arrastar a asa ao Modernismo quando gostamos de imaginar que isso é coisa tão do passado que não se encaixa de modo nenhum numa ideia mínima de futuro, muito menos do presente.

A ausência de título parece-me, na maior parte dos casos, ausência do que quer que seja no objecto exposto. Uma dúvida absoluta. O próprio criador se interroga perante o objecto criado. Tudo bem, que espanto!!! Uau, estou estarrecido com a estranheza do meu trabalho, sou mesmo um génio! Sou tão genial que me faltam as palavras, a minha obra é tão absoluta e sublime que não pode ter título! Uau, sou mesmo eu!!!

Acredito que um dos maiores gozos que um gajo pode ter é titular os seus trabalhos invocando dessa forma o espectador a participar na reconstrução do objecto.
A arte tem de ser e servir para algo mais que uma ejaculação do artista. Caso contrário não passará disso mesmo por muito prazer que proporcione a quem a produz e a quem goste de assistir a semelhante espectáculo.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Ondas do mar

As vagas sucessivas de imigrantes clandestinos oriundos de África que vêm bater nas praias espanholas colocam algumas questões que nem sempre são consideradas. Já se sabe que vêm em condições sub-humanas, que são enganados pelos traficantes, que arriscam tudo e a própria vida nestas viagens aventurosas mas o que esperam encontrar estes homens e mulheres vindos não sabemos bem de onde?

Quando os regimes totalitários de inspiração comunista se dissolveram após a queda do Muro de Berlim houve um episódio estranho que, na época, deixou o "lado de cá" de queixos caídos. Estou a referir-me a um navio que chegou à costa italiana a abarrotar de albaneses. Não me recordo do nome do navio mas lembro-me que a imagem daquela autêntica "nave dos loucos" foi utilizada pela Bennetton numa das suas características campanhas mediáticas. A imagem que os passageiros do navio tinham construído baseava-se em imagens televisivas. Que significado poderiam ter numa Albânia fechada sobre si própria os anúncios publicitários ou as séries televisivas que ali chegavam, ainda por cima faladas em línguas impenetráveis e incompreensíveis?

Lembro-me também de um documentário que entretanto passou na TV sobre a realidade albanesa (ou sobre o julgamento que fazíamos dela). Um amigo meu brincava dizendo que, segundo as estatísticas, havia na Albânia um sapato por habitante e aquilo que se nos revelava não andava muito longe dessa macabra visão. Numa entrevista a um "chefe de aldeia" o repórter perguntava como era viver num país tão pobre, onde tudo faltava e sem liberdade de expressão. A resposta que aquele homem magro, vestido num miserável fato e camisa branca meio desalinhada, deu nunca mais a esqueci. Disse ele que uma pessoa apenas sente a falta daquilo que já teve ou imagina que possa vir a ter. Assim sendo, tudo o que a nossa sociedade consumista oferecia (e oferece) era de tal modo inimaginável para o albanês comum que ele, simplesmente, não podia sentir a falta de nada disso! A lógica arrasadora deste pensamento assalta-me sempre que vejo notícias sobre as vagas de imigrantes da África sub-sariana.

O que imaginam estes candidatos a habitantes da Europa que virão aqui encontrar? Como concebem eles a vida, seja nos países de origem ou nos de acolhimento? Há magia envolvida, divindades protectoras, demónios inimigos ou baseia-se tudo num sistema de pensamento lógico onde a melhoria das condições de vida é objectivo bem claro e definido? Se eles soubessem (será que não sabem?) aquilo que os espera viriam na mesma?

Dúvidas, dúvidas, dúvidas.

Sei bem que a realidade é, quase sempre, uma questão de perspectiva individual. A minha realidade não admite, por não a compreender, a realidade dos habitantes do Darfur, para dar um exemplo. Ao ouvir "Darfur" não imagino nada de concreto. Sou assaltado por uma mão-cheia de imagens e ideias tão confusas quanto abstractas que não chegam a constituir uma realidade por não fazerem grande sentido. O que podem imaginar os habitantes daquela zona do Sudão quando ouvem falar da Europa?

Um dia talvez as fronteiras caiam todas, talvez as nacionalidades, a cor da pele, os credos religiosos e outras fronteiras menos perceptíveis sejam também irradiadas para sempre. Entretanto vivemos na mais completa ignorância em relação ao "outro", ao que vem à nossa procura sem sabermos o que espera ele de nós. Decerto que o "outro" também não terá grandes certezas sobre aquilo que nós esperamos dele. E volta tudo ao ponto de partida.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Não é por nada!


Condenado por defeito, acrílico sobre papel, RSXX, 2001


Os aviões passaram por aqui com suspeitos suspeitos e intenções pouco católicas, muito menos democráticas. Será assim tão importante? A quem tira isto o sono?
Que a CIA é flor malcheirosa só mesmo quem tem a penca entupida ainda não compreendera.

Que Portugal faz-de-conta que é uma coisa que afinal não é bem assim só mesmo quem acredita na bondade dos carrascos poderia entender. Não tenho nada contra a profissão de carrasco (com o desemprego que por aí vai...) mas não sei se será aceitável fechar os olhos tantas vezes sem ser por causa da força da luz do sol ou em função do estoiro do trovão. Somos como avestruzes vaidosas e escondemos a cabeça do próprio corpo, por uma questão de indecência.

Não vemos, não ouvimos, não sabemos... logo não temos culpa, ninguém pode julgar-nos! Somos inocentes de todas as acusações, somos bons e tememos Deus com o estupor do estúpido. Além do mais curvamos a espinha aos desejos do representante de Deus na terra, só isso, nada de mais. Quem pode querer saber da sorte de uma mão cheia de suspeitos de terrorismo que, se calhar, até são culpados? Quem pode preocupar-se com os fundamentos do estado de direito que fingimos respeitar? Sim, quem, a não ser uma meia dúzia de energúmenos e vendidos ao terrorismo internacional?

Vou mas é ver a Floribela e, no intervalo, vou espreitando os Morangos com Açúcar. Quem pode interessar-se por outra coisa? Nã está ali a essência do ser português? Não está ali a miragem do que somos? Não? Ai não que não está. Foda-se!

segunda-feira, setembro 04, 2006

Histórias de cowboys



Apareceram na FNAC uns quantos álbuns do Tenente Blueberry ao preço da chuva (2.90 €). Aproveitei para tapar alguns buracos na minha colecção mas ainda me faltam alguns. Serviu isto para reler as aventuras desta personagem e relembrar a mim próprio como a Banda Desenhada pode ser uma coisa extraordinária.

O primeiro volume "Forte Navajo" foi-me oferecido pelo meu pai tinha eu 6 ou 7 anos. Li-o tantas vezes que lhe perdi a conta. Durante anos foi o único álbum de BD que pude ler. O Mundo de Aventuras, o Ciclone, o Falcão e outras revistas de pequeno formato ocupavam o meu imaginário juvenil.

São 28 aventuras, até à data. Com argumento de Charlier e desenhos do maior génio da BD ainda em actividade, Jean Giraud/Gir/Moebius. Uma sequência de situações e personagens de uma imaginação a toda a prova, a leitura desta Banda Desenhada constitui um exercício de enorme prazer.

Sinceramente, gosto tanto desta coisa que nem sei como ou que hei-de dizer acerca dela.
Fica o link para um site dedicado à colecção das aventuras do Tenente Blueberry e a nota de que se trata de Banda Desenhada da melhor qualidade.

http://www.blueberry-lesite.com/

domingo, setembro 03, 2006

A Culpa é rapariga solteira!

Fazer o Pinóquio não é educá-lo! , RSXXI Outubro 2002
Não me recordo de ter alguma vez ouvido dizer que alguém aceitou a sentença do tribunal sem recorrer de imediato a outra instância judicial. No nosso país ninguém parece estar preparado para ser julgado pelos seus actos. Na verdade o português, de um modo geral, nunca se considera culpado de nada. Mesmo quando é apanhado a fazer merda da grossa encontra sempre justificação para afirmar sem tremura nem temor que "Não tenho culpa!". Pois não, há sempre uma justificação para o erro e, se não foi culpa de outrém, terá sido resultado de um conjunto de circunstâncias.

Nas escolas, nas ruas, na política, em todo o lado, o português nunca tem culpa de nada e, como tal, não pode ser condenado sem que isso constitua uma tremenda injustiça! Haverá sempre mais alguém a quem recorrer, mais uma tentativa para mostrar o seu especialíssimo ângulo de visão sobre o problema em análise. Isto faz com que a justiça seja ainda mais lenta do que já seria de esperar dada a qualidade dos seus agentes principais.

É como se não houvesse uma Lei que fosse a reger a nossa vida em comunidade e uma grande parte dos juízes parece apostada em mostrar que essa aparente falta de senso faz todo o sentido. Julgam e contrajulgam com uma leveza assustadora colocando-se muitas vezes a si próprios acima da Lei como se constituissem uma casta superior. São eles e os polícias. E os autarcas. E os políticos, de uma forma geral...

... se calhar não confiamos nas leis nem no poder precisamente porque os sinais que deles recebemos nos deixam hesitantes em acreditar nas suas boas intenções. Ou seja, somos um povo ingovernável mas, na verdade, não temos culpa...

sábado, setembro 02, 2006

Valha-nos Deus!

Que o "americano médio" é potencialmente um dos animais mais estúpidos do mundo já era de suspeitar. Afinal de contas são governados por George W. Bush, um exemplar digno de figurar em qualquer tenda de feira de enormidades que se preze.
Eu sei que o facto de termos Cavaco Silva na presidência da República não abona grande coisa em favor do "português médio". No entanto (não sei qual é exactamente a posição de Cavaco ou se está preparado para emitir uma opinião fundamnetada sobre o assunto) andamos longe de declarar o Criacionismo parte do mistério da vida ou mesmo a grande verdade universal. Já os EUA parecem andar mais perto disso que de outra coisa qualquer.
O fundamentalismo religioso é um dos pecados mais mortais que sou capaz de imaginar. É a coisa mais desprezível que um ser humano pode fazer a si próprio. É o suicídio mais abjecto que podemos praticar. O fundamentalismo religioso é a mais fértil das fontes de ódio que nos levam a perder o sentido da vida até ao ponto de sermos capazes de imaginar que outro ser humano pode não ter alma e nós sim, apenas porque dão outro nome a Deus que, só por si, é uma treta. Mas pronto, um gajo até pode estar disposto a aceitar que haja quem seja suficientemente ingénuo para engolir a história de Adão e Eva, do Deus que tudo vê e outras patranhas na mesma onda. Já não é de todo aceitável que um papalvo capaz de engolir semelhantes histórias da carochinha pegue numa arma e empunhe um livreco na outra, dizendo que é sagrado, e pretenda obrigar todos os outros a comerem da sua gamela.
Temos de agradecer aos chefões da igreja católica o facto de terem perdoado recentemente Galileu pela sua blasfémia quando afirmou que a Terra girava em volta do Sol e não o contrário. Finalmente pudemos aceitar esse facto sem corrermos o risco de ser excomungados por isso. Espero que não venham a declarar blasfemos todos aqueles que puserem em causa ser o Universo obra de Deus em seis dias ou quem duvidar que a mulher foi feita a partir de uma costela de Adão.
Aguardemos serenamente. O mundo não acaba amanhã.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Super sem chumbo

Na minha qualidade fã incondicional de Banda Desenhada tenho nos Comics uma fonte de prazer bastante razoável. Vai daí, sempre que há uma adaptação cinematográfica não costumo perder. Andava há alguns dias com a intenção de ir ver Superman Returns e hoje cumpri o meu dever.

As coisas começaram a correr mal logo no genérico, uma pastelice pouco impressionante, a dar o tom geral do que havia de se seguir. Nem Kevin Spacey com o cabelo rapado à Lex Luthor consegue salvar a mediocridade geral do filme.

Mau argumento, desempenhos pouco conseguidos e lamechice aos pontapés. Nem mesmo os efeitos especiais são de tirar o fôlego, longe disso.

Mas o pormenor que me deu cabo da cabeça foi o penteado do Super. Aquela vírgula que lhe cai na testa quando veste o fato de herói e que penteia quando se transforma no repórter imbecil que dá pelo nome de Clark Kent é, na presente versão, de um mau gosto que distrai. Sempre que havia um grande plano era difícil reparar noutra coisa. Aquele pormenor capilar é impagável!

Comprido e chato, como a espada de Dom Afonso Henriques, o filme arrasta-se penosamente até terminar num hino super-kitsch dedicado à paternidade do super-melga que protagoniza esta macaqueação de filme de aventuras.

Longe da qualidade das adaptações do incrível Hulk, dos Batman (ha, grande Tim Burton) ou dos recentes Homens-Aranha, para citar apenas alguns, mais valia que o Super-Homem não tivesse regressado. Estava muito bem lá onde estava, porque raio havia de regressar?

Conselho de amigo: não vão ver, muito menos com crianças. A menos que não comam a sopa.