domingo, agosto 06, 2006

M



Há filmes assim. Filmes que podemos ver e rever sem nunca nos cansarmos. A cada novo visionamento redescobrimos as qualidades que nos levaram uma e outra vez a procurá-los. M, de Fritz Lang, passou aqui há dois dias no canal Arte. Versão recuperada, mais próxima da original segundo a introdução, com cenas perdidas noutras versões. Falado em alemão e legendado em francês, a sessão do Arte foi um momento especialmente empolgante para mim pois assisti a ela com a minha filha.

Eu sei que ela tem apenas 12 anos, que um filme como M deveria, à partida, ser uma espécie de seca tremenda para a criança. Mas a verdade é que um filme quando é excelente não seca os miolos de ninguém que goste de cinema ou ande a descobrir que gosta. Ficou provado.

Além disso ainda pude exibir-me um pouco fazendo algumas traduções do francês, lígua que aprendi na escola secundária (tive apenas um ano de inglês) e debatendo aspectos cinematográficos ali, "em directo" e "ao vivo".

Hoje revi com a minha filha Dead Man de Jim Jarmusch numa gravação feita também do Arte, por coincidência. A Eva é fã de Johnny Depp que protagoniza (ou será mais apropriado dizer "que agoniza"?) esta espécie de western anti-canónico. Já fizemos outras experiências do género com igual sucesso (estou a lembrar-me de A Noite do Caçador, de Chales Laughton).

É um prazer misturar estes filmes com os da Pixar ou os chamados clássicos da Disney, ou os filmes de Tim Burton e de Shyamalan, para citar apenas os preferidos da minha família e ir (re)construindo um imaginário cinematográfico que tem um dos seus pontos altos em O Feiticeiro de Oz de Victor Fleming.

Não há que temer a variedade nem a mistura de géneros e de épocas diferentes. Afinal é aí que reside a essência da cultura Pop: síntese e reinvenção! É não é? A erudição fica bem num jarra de flores, a enfeitar o púlpito do discursante. Não há que ter medo de se gostar daquilo que verdadeiramente se gosta.

Voltando a M, o que mais me impressiona é a narrativa e a quase ausência de personagens individualizadas. Não há uma personagem principal. As personagens são pessoas colectivas que se diluem na sequência narrativa e dão um carácter épico a uma história de uma simplicidade quase absurda.

Tenho algures uma cópia em cassete de vídeo legendada em português... vou procurá-la.

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