quinta-feira, maio 18, 2006

Teologia de trazer por casa

Há uma coisa que de vez em quando me vem fazer cócegas no cérebro. É a distinção entre Verdade e Realidade. Enquanto a questão foi como algo que dormia no meu regaço, sem que me apercebesse da sua existência, nada! Estava lá mas eu não sabia, logo, como diz o povo, "olhos que não vêem, coração que não sente" ( O povo diz isto, não diz? Pelo menos acho que dizem que diz!)
Mas um belo dia, ia eu ao cinema com a família ver Big Fish, o filme de Tim Burton e a questão surgiu de um local improvável: da boca da minha filha. Na altura teria ela uns 10 anos, não sei bem, e estávamos a recordar os filmes de Burton que já haviamos visto. Eduardo Mãos-de-tesoura, Marte Ataca, Pee Wee Big Adventure, A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, Ed Wood... aí a mãe perguntou que filme era esse, Ed Wood? A miúda explicou que se tratava da história de um realizador de cinema que era um tipo estranho. E estranho porquê? Estranho como? Estranho porque não percebia a diferença entre verdade e realidade. Póinnn, ficámos de olhos arregalados a pensar no assunto que, para a criança, era de uma limpidez absoluta.
Lá fomos ver o Big Fish (ainda recentemente revimos o filme) e, desde aí, a pergunta visita-me de vez em quando.

Vem isto a propósito da questão em redor da estreia nos cinemas de O Código da Vinci e da agitação que vem causando entre católicos apostólicos romanos. Insurgem-se por considerarem que o filme divulga "mentiras" sobre a figura de Jesus. Andará tudo à volta da suposição veiculada na obra de Brown de que Jesus teria constituído família com Maria Madalena. Sacrilégio! Blasfémia! Para os guardiões da Fé católica isto não passa de uma fantasia.
Tudo bem, estão no seu direito.

Convenhamos que a dita Fé se baseia em pouco mais que suposições e enormes doses de imaginação perdida nas brumas do tempo. Evangelhos adoptados e por adoptar. Traduções manhosas de textos supostamente sagrados. Anjos a ditarem textos a evangelistas semi-analfabetos... fantasias!

A religião não se baseia em factos, se assim fosse dispensava-se a Fé. A religião baseia-se em crenças. Acredita-se na existência de Deus e, a partir dessa crença fundamental, tudo é possível. Dá até para acreditar que a mulher foi criada a partir de uma costela do primeiro homem. É um pormenor abstruso. Porquê de uma costela? Deus não tinha melhor matéria prima à mão de semear? E por aí fora.

Ora é por esta altura que regressa a questão da Verdade e da Realidade.
Pensando bem são coisas completamente distintas.
Deus, por exemplo. Pode muito bem existir na Verdade e andar muito longe de existir na Realidade. E vice-versa.
Pode ou não pode?

1 comentário:

fada*do*lar disse...

Pois pode!
"Longe da vista, longe do coração", nesta lógica a fé nem sequer teria lugar onde morar... (trocadilho)
E não sou mázinha! ;-)