terça-feira, março 28, 2006

Lem

Li hoje a notícia da morte de Stanislaw Lem, o escritor polaco, aos 84 anos de idade.
É daquelas coisas que causam um ligeiro arrepio, uma certa tristeza. Apesar de estar longe de ser um perito na obra deste semi-louco, tenho como livros de referência Solaris e As Viagens de Ijon Tichy, ambos da sua autoria. Curiosamente tenho dois exemplares da edição portuguesa de Solaris dos Livros de Bolso Europa-América (cheguei a ter 3) e outros dois das Viagens..., edição da Caminho.
Isto porque sonhei (não sei se ainda sonho) adaptar partes ou a totalidade destas obras. Solaris daria uma peça de teatro grandiosa, fosse eu capaz de fazê-lo, e nas Viagens... há contos supreendentes que tanto poderiam ser adaptados aos palcos como a Banda Desenhada, o que quer que fosse!
Na notícia do Público (bem modesta, para ser franco) fala-se do pouco entusiasmo de Lem pelas duas adaptações cinematográficas de Solaris. A primeira do divino Tarkovsky, a segunda, bem mais recente, de Soderbergh com George Clooney no papel de Kris Kelvin, o torturado protagonista deste conto exemplar. Baseando-se apenas nas críticas, já que afirma não ter visto nenhum dos dois, Lem sugere que os cineastas estiveram longe de "ler" correctamente a profundidade de Solaris. Penso que tem razão e, caramba, mostra-me como seria atrevimento perigoso e pretensiosismo da minha parte avançar no interior dos meus sonhos ao ponto de tentar trazê-los à realidade envolvente. Cheguei mesmo a falar com Dinarte Branco neste projecto (o "meu" Kris Kelvin de eleição), mas a preguiça aliada a ataques esporádicos de hulmildade impediram-me de ir muito longe nos esforços produzidos.
Solaris é, a todos os títulos, recomendável. Talvez a tradução que possuo (traduzido da versão inglesa por Inês Busse, edição original de 1961, edição inglesa, Faber and Faber Ltd. de 1970 e portuguesa, da Europa América, de 1983) não seja a mais empolgante forma de abordar a obra incomparável de Lem.
O capítulo II, Os Solaristas, tem algumas das páginas mais absorventes que me recordo de ter lido em qualquer dos muitos livros de ficção científica (e não só) que devorei no final da minha adolescência. A ideia central de Solaris é simplesmente genial. Uma obra a ler, um autor a descobrir para quem não tem a felicidade de o conhecer ainda.
Que visitante me enviaria Solaris?

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