domingo, março 05, 2006

Importações

Easter Bunny meets The King, acrílico sobre papel 2005, RSXXI

Cada um tem o jejum que merece ou está disposto a guardar.
Os árabes devotos respeitam o Ramadão, católico que se preze faz da Quaresma ponto de muitíssima honra.

É por isso que o Carnaval, deste lado da Linha Invisível, se faz de excesso e delirium tremens. Os foliões deviam estar a precaver-se para a longa travessia quaresmal, como camelos alinhados na beira de um lago antes de um passeio no deserto. Mas não. Toda a gente sabe que os excessos carnavalescos são uma ínfima parte do regabofe infindável em que transformamos a nossa existência. Como diz a canção: "Carnaval é quando um homem quiser e não faz mal se for vestido de mulher!"

Como passam os nossos reflexos árabes pelo seu Ramadão? Como é o período de jejum do outro lado do espelho? Será tão rigoroso como parece quando vimos as imagens habituais do mundo islâmico? Tanta miséria e tanto sangue não deixam adivinhar grande folga prá folia.

Como será no Dubai?

Por cá nem os católicos são ainda o que já foram. Qual jejum qual caneco! É ver tudo a dar à dentola com uma fúria de marabunta desenfreada. Cozidos à portuguesa, feijoadas repletas de carne de porco, gordura a escorrer da panela e do canto da boca. A gula do costume.

Sinceramente tenho alguma dificuldade em enquadrar a figura do Coelhinho da Páscoa.
De onde vem aquele mostronço?
Um coelho que põe ovos? Que puta de aberração! Ainda por cima são ovos de chocolate.
Como querem que um gajo aguente os rigores do jejum quando nos oferecem a tentação assim, embrulhada num pele de coelhinho adorável?

Como já não sou católico desde antes da adolescência deixei de me preocupar com o fogo do Inferno e estou-me (ainda mais) a lixar para a Quaresma. Mas o coelho intriga-me.
É bom ou mau?
Põe os ovos ou tem contrato com a Kinder?
É diabólico?
Oferece as guloseimas à borla ou quer algo em troca?

Cá pra mim o bicho é tipo São Valentim ou mesmo coisa vinda das mesmas bandas de onde nos chegou o Haloween.Um daqueles produtos de importação para vender mais qualquer coisa ao pessoal, fazendo-nos crer que se trata de alguma tradição vadia que veio para ficar entre nós.

Grande treta de conversa...

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